Planejar uma campanha eleitoral não é trabalho fácil. Objetivando a vitória, é necessária a dedicação de todos os profissionais envolvidos no processo, empenhando-se para que, tanto candidato quanto eleitores, estejam em sintonia e estabeleçam uma relação de troca mútua, compartilhando valores e sentimentos.
Para que este pacto entre os dois agentes envolvidos no processo se desenvolva de forma coesa, é preciso estabelecer estratégias que entendam o comportamento dos eleitores, ator político e alvo no pleito eleitoral. E, para isso, passe-se a compreender a necessidade das pesquisas eleitorais.
Como visto em nossa publicação sobre o comportamento nas eleições, as pesquisas eleitorais podem apresentar dois vieses de análises. Em pesquisas onde somente é observado o comportamento de voto do eleitor através de simulações, o resultado obtido é um recorte do momento analisado, ou seja, uma fotografia da intenção de voto no momento temporal observado. Este tipo de análise é importante para encontrar a tendência de voto durante o andamento do pleito, mas não pode ser o único objeto de estudo para compreender o comportamento dos eleitores durante a disputa política.
Como sabemos, a nossa sociedade é composta por uma diversidade enorme de personalidades e suas subjetividades. Cada eleitor possui valores, atitudes e percepções que influenciam a sua decisão de voto e o seu comportamento perante a política. E, diante deste cenário, compreendemos a necessidade de aprofundarmos nossos estudos nas pesquisas em Comportamento Político.
Mas como observar um número tão diverso de eleitores e, principalmente, agrupá-los, de forma a facilitar o entendimento do comportamento político destes agentes, com a finalidade de definir estratégias para que a campanha se comunique com um maior número de eleitores possíveis, objetivando o engajamento e resultando em vitória?
Estudos em Comportamento Político resultam em análises onde o eleitor e suas atitudes frente a política são identificadas, possibilitando observar tendências semelhantes, o que facilita o posterior agrupamento desses eleitores a partir de suas congruências. Mas, sem um olhar técnico, a possibilidade de agrupamento se torna nula.
Uma das estratégias que utilizamos em nossas investigações é o Indicador de Posicionamento Político. Este indicador permite a compreensão do comportamento do eleitorado em relação à política e a identificação de semelhanças atitudinais entre os indivíduos. De posse de questões comportamentais pré-definidas, o próprio eleitor identifica como atua politicamente em sociedade, respondendo ao questionamento: “Quando se trata de política, você?”, e indicando, na escala apresentada, a opção que possui maior semelhança com a sua conduta. A escala é composta de uma série de opções atitudinais, que variam desde uma participação direta do eleitor na política até um completo desinteresse, propiciando o posterior agrupamento em quatro (4) grandes grupos que demonstram características atitudinais, conforme apresentado:
É de suma importância identificar o perfil de cada um dos grupos de eleitores e como eles se comportam no processo eleitoral, pois o interesse de participação política corresponde à influência que cada um desses grupos possui em suas relações e a certeza, ou não, da destinação de voto à determinado candidato.
Em estudo recente realizado com eleitores de Porto Alegre, foi possível identificar o posicionamento dos porto alegrenses em relação as suas ações políticas com a utilização da ferramenta Indicador de Posicionamento Político. Com ela, conseguimos agrupar os eleitores de Porto Alegre analisando suas similaridades atitudinais. Utilizando a metodologia apresentada na aplicação do Indicador de Posicionamento Político, obtivemos os seguintes resultados:
Como visto, pouco mais da metade da população porto alegrense (53% correspondem a soma dos eleitores ativos e receptivos) é realmente engajada em assuntos políticos de forma direta ou indireta, enquanto o restante dos eleitores (47% – somatório dos eleitores neutros e desinteressados) demonstram níveis de desinteresse a política. A forma como a população atua perante a política influencia diretamente em como estes eleitores definem a sua participação no processo eleitoral e, consequentemente, na sua decisão de voto, e o quanto estarão em sintonia com o pleito eleitoral definido por determinados candidatos.
Em nossa próxima análise sobre o Indicador de Posicionamento Político, conheceremos como o eleitorado de Porto Alegre se comportou, observando pelo agrupamento do nível de participação em assuntos políticos, nos pleitos para presidente e governador, e observaremos a tendência que estes mesmos grupos apresentam para a eleição municipal, que se encontra no horizonte das investigações.
Schaiany Stallivieri é Socióloga, pesquisadora em Comportamento Político e Analista de Pesquisas do Instituto Methodus.