A expressão “Narco-Ecologia”, cunhada pelo pesquisador Aiala Colares Couto, da Universidade Estadual do Pará, evidencia um cenário onde os elos entre atividades do narcotráfico e crimes ambientais na Amazônia expõem não apenas as consequências ambientais, mas também desafiam diretamente as estruturas políticas e institucionais do país. A pesquisa “Cartografias da Violência na Amazônia”, conduzida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto Mãe Crioula, lança luz sobre a exploração criminosa que vai do desmatamento ao tráfico de minerais em territórios protegidos.
O interesse de Colares em entender a interconexão entre o narcotráfico e os danos ao meio ambiente ressalta a evolução dos delitos por parte do crime organizado. A construção de laços territoriais dessas organizações em áreas protegidas, como reservas ambientais e terras indígenas, não só compromete a imagem do Estado nessas regiões, mas também fortalece a influência do narcotráfico, minando a autoridade e a presença estatal.
A presença de 22 grupos criminosos, tanto nacionais quanto estrangeiros, operando em um quarto dos municípios da Amazônia, ilustra a magnitude do problema. O impacto do crime organizado atinge cerca de 60% da população na região, remetendo à violência das ‘narco gangs’ das favelas cariocas. Facções como Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital (PCC), conhecidas no Sudeste brasileiro, expandiram suas estruturas para a Amazônia, engajando-se não só no tráfico de drogas, mas também no de minerais e madeira.
A interligação entre grupos regionais e do Sudeste do Brasil, originada pela transferência de prisioneiros entre estados, resultou numa fusão entre organizações, fundindo interesses e recursos. ‘Por trás de tudo isso há um forte interesse econômico. Já sabemos, há uma rede clandestina no tráfico ilegal de ouro que parte do Brasil, passa pela Guiana e alcança Miami, França e Inglaterra. Existe uma enorme rede internacional que subsidia o contrabando de ouro. Onde é contrabandeado? A quem vai? Tudo isso precisa ser estudado, revelado, já que há uma demanda alimentada pelo crime organizado na Europa e nos Estados Unidos’, afirma Colares.
Além disso, a vulnerabilidade das áreas remotas da Amazônia, a ineficiência da segurança pública e a corrupção contribuem para a continuidade dessas atividades criminosas. A penetração do narcotráfico no âmbito político, financiando campanhas e influenciando prefeituras no Pará, evidencia a fragilidade das estruturas institucionais e a urgência de reformas.
Segundo o IBGE, no Brasil, mais de 10 milhões de jovens não estudam e trabalham, atraídos pelos ganhos fáceis oferecidos pelos narcotraficantes, mas também pelas milícias. Se destaca não apenas uma oferta de ganhos fáceis, mas também um sintoma de desigualdade social e ausência de oportunidades legítimas. A exploração dos recursos em detrimento das comunidades indígenas e quilombolas reflete não só um modelo econômico falho, mas também a complexidade e a urgência de abordar questões arraigadas na estrutura social do país.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.
Leia também: