Quais aprendizados as eleições presidenciais brasileiras nos oferecem sobre o fenômeno do endosso?
Esse tema desponta como um dos eixos centrais do debate político atual. Neste momento, partidos e pré-candidatos à Presidência em 2026 buscam avidamente o endosso ou, em termos mais populares, o “apadrinhamento” do ex-presidente Jair Bolsonaro, na tentativa de converter seu capital político em votos.
Neste artigo, defendo a tese de que o endosso só é eficaz quando reúne quatro condições indispensáveis:
- alta popularidade do padrinho político,
- construção de uma narrativa convincente de continuidade,
- tempo hábil para sedimentar essa narrativa,
- respaldo de uma máquina partidária com capilaridade nacional.
Duas décadas de disputas presidenciais no Brasil condensam três lições cruciais sobre como o apadrinhamento pode decidir ou derrubar uma eleição.
2002 – Fernando Henrique Cardoso → José Serra: O PSDB buscou manter sua hegemonia, mas o governo tucano sofria forte desgaste, crises econômicas, apagão energético e baixa popularidade corroíam a credibilidade do endossante. Serra, apesar de gestor competente, não possuía identidade eleitoral própria nem carisma. O eleitor buscava mudança, e Lula representava essa renovação. O caso mostra que o endosso dificilmente se sustenta quando o padrinho político encerra o mandato marcado por rejeição e falta de novidade.
2010 – Lula → Dilma Rousseff: Em cenário oposto, Lula deixava dois mandatos com aprovação recorde e uma narrativa de prosperidade social. Dilma, gestora de bastidores, foi construída como “mãe do PAC” e herdeira legítima do lulismo. O PT, disciplinado e estruturado, mobilizou-se nacionalmente. A convergência entre popularidade do padrinho, narrativa de continuidade e força partidária garantiu a vitória no 2º turno, exemplo clássico de endosso bem-sucedido.
2018 – Lula → Fernando Haddad: Lula, ainda líder popular, estava preso e inelegível, e o PT enfrentava forte rejeição após a Lava Jato. Haddad foi lançado tardiamente e dependia quase exclusivamente da associação com Lula. O endosso levou-o ao 2º turno, especialmente pelo peso do lulismo no Nordeste, mas não bastou para vencer. O antipetismo, a crise política e a ascensão da onda conservadora fortaleceram Bolsonaro. A eleição mostrou que a transferência é possível, mas não absoluta, e pode ser neutralizada por fatores contextuais.
Tomados em conjunto, os três casos oferecem pistas claras para interpretar o presente e antecipar os rumos do cenário eleitoral de 2026.
Bolsonaro mantém popularidade, mas está inelegível e enfrenta riscos concretos de prisão. Sua indefinição quanto ao endosso de um sucessor encurta o campo da disputa, limitando o tempo para que o escolhido construa a narrativa da sucessão. Além disso, a onda conservadora que embalou a vitória de 2018 está hoje fragmentada entre diferentes líderes.
A desorganização partidária também dispersa o discurso, deixando o eleitorado confuso sobre qual posição adotar. Nesse sentido, a rejeição funciona como barreira: assim como em 2002 inviabilizou a sucessão do PSDB, agora pode reduzir a capacidade de Bolsonaro de transferir votos. Sem um representante legítimo, a indecisão tende a contaminar parte significativa do eleitorado de direita.
Outro aspecto fundamental é a força partidária. Em 2010 e 2014, o PT demonstrou unidade e mobilização nacional, com vereadores, prefeitos, deputados e senadores atuando em sintonia. Esse capital organizacional deu sustentação ao endosso de Lula. Já no campo de Bolsonaro, o PL carece da mesma representatividade territorial e disciplina partidária, o que enfraquece sua influência no processo sucessório.
Procurei demonstrar nesta análise que a experiência brasileira revela que o endosso eleitoral não se dá por um passe mágico. Ele pode ser poderoso quando combina popularidade do padrinho, narrativa de continuidade, tempo hábil de preparação e força partidária. Sem esses elementos, tende a ser limitado ou fracassar.
Nas eleições de 2026, o peso do endosso de Bolsonaro será medido menos pela devoção de sua base e mais pela capacidade de transformar carisma em organização, e nisso a história mostra que não há atalhos.
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José Carlos Sauer – Diretor do Instituto Methodus, especialista em comportamento político e graduado em Filosofia Política. Há mais de 25 anos atende disputas eleitorais, conduzindo pesquisas de opinião, interpretação de dados e análises, além do direcionamento estratégico para campanhas.
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