A lembrança espontânea do eleitor é o atalho da mente quando a política acelera.
No Rio Grande do Sul, saber quem o eleitor cita sem estímulo ajuda a entender não só a disputa presidencial, mas também como ela transborda para o Piratini. Este artigo mede se, e quanto, a menção espontânea a Bolsonaro e a Lula se convertem em intenção de voto para governador, identificando onde cada efeito é mais intenso e em quais contextos ele falha.
Partimos de um cenário já consolidado, em que PDT, PL e PT dividem o protagonismo e a continuidade de Eduardo Leite (PSD) pode reordenar o centro através de Gabriel Souza (MDB). Com base nos microdados da pesquisa divulgada pelo Instituto Methodus, estimamos o efeito das menções espontâneas a Bolsonaro e Lula sobre a probabilidade de voto para PL, PP, PDT, PT e MDB, controlando perfis sociodemográficos e território. O objetivo não é cravar determinismos, mas quantificar tendências e identificar janelas estratégicas.
Entre os eleitores que citam Bolsonaro na espontânea presidencial, o impacto sobre a disputa estadual é imediato. Zucco (PL) aparece como o principal beneficiado, ampliando consideravelmente sua força nesse grupo. Covatti (PP) também registra ganhos, ainda que de forma mais discreta, consolidando-se como alternativa pragmática dentro do campo da direita.
Entre os eleitores que citam Lula na espontânea presidencial, o quadro se inverte. Edegar Pretto (PT) ganha tração, ampliando sua competitividade e consolidando-se como a principal referência do campo progressista. Juliana Brizola (PDT) aparece como opção complementar nesse espectro.
Essa disputa de memórias evidencia que a eleição estadual já nasce nacionalizada, mesmo quando a pergunta não trata diretamente do Piratini. A lembrança de Bolsonaro e Lula atua como filtros cognitivos que reorganiza as escolhas locais a partir de referências nacionais.
Ao observarmos os perfis sociodemográficos e os territórios envolvidos, identificamos padrões distintos para cada campo: a direita encontra solidez onde a saliência bolsonarista é maior, enquanto o progressismo ganha fôlego nos espaços em que Lula ancora a memória do eleitor.
Esse contraste revela que o comportamento político no RS não se explica apenas por preferências estaduais, mas pela forma como cada grupo interpreta o jogo à luz das disputas nacionais.
O recorte por Mesorregiões permite compreender que o interior conservador tende a reproduzir o efeito Bolsonaro → Zucco, com Covatti como reserva pragmática. Já na Região Metropolitana e grandes cidades do Estado, a lembrança de Lula tem peso maior, abrindo espaço para Pretto.
Sob o aspecto religioso, nos segmentos mais conservadores, Bolsonaro ancora Zucco; entre grupos menos mobilizados, Lula aumenta a propensão a Pretto.
O Olhar pelo Gênero, revela que mulheres mostram menor adesão automática ao efeito Bolsonaro, o que abre margem ao PT com pautas de cuidado e serviços sociais.
Na variável Escolaridade observa-se que nas faixas intermediárias, há mais ambivalência. O eleitor de Bolsonaro retém perfis ideológicos, O centro obtém desempenho entre os pragmáticos e Lula aparece como referência junto a eleitores que alinham a sua escolha a Edegar Pretto.
O campo da direita apresenta pontos fortes e fracos bem definidos. Sua principal fortaleza está na presença de Bolsonaro como referência espontânea, que funciona como um efeito mobilizador imediato. Além disso, a direita dispõe de uma diversidade interna: de um lado, o PL, mais ideológico e em linha direta com o ex-presidente; de outro, o PP, que oferece uma alternativa mais pragmática, voltada para gestão e administração. Essa combinação amplia a capacidade de alcançar diferentes perfis de eleitor.
No entanto, há fragilidades relevantes. A mais evidente é a dependência da figura de Bolsonaro como âncora, na ausência do Messias, a conversão eleitoral perde força. Soma-se a isso o risco de divisão entre PL e PP, que podem disputar o mesmo espaço em vez de se complementarem. Além disso, a direita mostra menor eficiência entre mulheres, jovens e eleitores da Região Metropolitana, grupo onde Lula é mais forte e cria obstáculos adicionais.
No caso da esquerda, as fortalezas aparecem justamente como contraponto à direita. A lembrança espontânea de Lula atua como um fator organizador do voto petista, beneficiando o desempenho e aumentando entre Pretto e Lula as chances de crescimento. Observa-se uma maior competitividade nos temas ligados a serviços públicos e políticas sociais, especialmente entre mulheres e jovens (grupo com o maior Desalento Eleitoral do Estado). Neste espectro o petista (Lula) encontra terreno fértil para crescer, ancorado na associação de sua lembrança com a agenda local e social de seu representante no estado.
O efeito da lembrança espontânea mostra que o jogo estadual já começa polarizado. Bolsonaro (impedido de disputar a eleição) e Lula funcionam como imãs que atraem forças para a disputa do Piratini. A direita ganha densidade quando Bolsonaro é lembrado, mas encontra barreiras identitárias nos redutos lulistas. Por sua vez, a esquerda resiste onde a lembrança é bolsonarista, encontrando oxigênio onde Lula ancora a memória do eleitor.
A eleição de 2026 no RS será, em grande medida, o resultado dessa disputa de lembranças.
José Carlos Sauer – Diretor do Instituto Methodus, especialista em comportamento político e graduado em Filosofia Política. Há mais de 25 anos atende disputas eleitorais, conduzindo pesquisas de opinião, interpretação de dados e análises, além do direcionamento estratégico para campanhas.
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