Quantas vezes você ouviu comentários sobre resultados de pesquisas eleitorais, em entrevistas ou mesmo em rodas de amigos, e inevitavelmente, como a quinta-essência da explanação foi dito: “pesquisas eleitorais são um retrato do momento”.
Caro leitor, se a argumentação apresentada sobre o resultado de uma pesquisa está limitada a uma fração do tempo, desconfie. O mais provável, é que você esteja diante de alguém que, ou não sabe analisar os resultados em questão, ou crê que em um pequeno espaço de tempo nossa natureza será alterada e novas crenças, novos valores ou um novo mundo serão possíveis.
Somos seres humanos, habitantes de um aldeia comum, comandados pela razão, possuidores de valores sociais e morais que resistiram aos testes dos tempos. As respostas aos questionamentos que investigam nossa existência são as mesmas de ontem, de hoje e de amanhã. Não há instabilidade na fração de nossa existência quando tratamos do comportamento.
Façamos um exame de nossa rotina. Provavelmente acordamos diariamente no mesmo horário e não necessariamente nessa ordem, escovamos os dentes, lavamos o rosto, preparamos o desjejum e iniciamos nossas atividades diárias. Também será seguro afirmar que, se gostarmos de futebol, torceremos para o mesmo time que nossos familiares.
Quando pensamos em comida, deve existir o seu prato preferido, e mais, existirá também o seu sabor favorito! Agora pense, há quanto tempo você cultiva estas preferências culinárias? Há uma enorme possibilidade que a sua resposta venha de muito longe, talvez da infância ou juventude, e inegavelmente estará ligada a alguma lembrança afetiva.
Com certa dose de certeza, declararemos que confiamos muito em nossa família, que residimos há um longo tempo no mesmo bairro, que acreditamos que os filhos devem cuidar dos pais na velhice. Concordaremos ainda, que o trabalho deverá sempre vir em primeiro lugar, mesmo que isso signifique menos tempo disponível para outras atividades. Também será fácil compreender, que nos relacionamos principalmente com grupos que possuem valores morais similares aos nossos.
Exemplos da perenidade do nosso comportamento, como já salientei anteriormente, para a maioria das nossas escolhas não haverá instabilidade na fração de nossa existência. Nosso comportamento está orientado, em grande parte, por costumes sedimentados ao longo do tempo e por influência do bando ao qual pertencemos, formando assim, o emaranhado de valores morais que inclinam nossas escolhas políticas, sociais e pessoais para um lado ou para o outro.
Avancemos um pouco mais. Você consegue lembrar em qual candidato votou para vereador na última eleição? Não! Eu também não lembro! E para prefeito, lembra? Não! Tudo bem, normalmente lembramos somente do vencedor e nunca do perdedor. Também podemos afirmar com certa segurança, que em determinadas situações, a maioria das pessoas terão dificuldade para decidir quais regras morais devem seguir, e que o ódio, a um ou outro político, influenciou sua escolha por determinado candidato nas últimas eleições.
A esta altura, talvez já estejamos convencidos que o termo, retrato do momento utilizado para argumentar sobre pesquisas, está ultrapassado. Ele nos deixa órfãos da narrativa, pois todo conteúdo divulgado estará aprisionado no tempo de sua existência, impedindo que prossigamos até a chegada de nova pesquisa.
Os exemplos que apresentei foram obtidos nas Pesquisas de Comportamento Político que realizamos aqui no Instituto Methodus. A perenidade destes resultados oferecem continuidade interpretativa, opondo-se radicalmente a imobilidade do velho termo, pesquisas são um retrato do momento. Como observamos, hábitos e costumes não são voláteis e permanecem constantes no centro das decisões e ao longo de nossas vidas.
Portanto, compreendemos que as informações reveladas em pesquisas de comportamento político são cumulativas. A cada investigação adicionamos nova camada de conhecimento, possibilitando um contínuo interpretar dos cenários e disputas políticas.
Ao apresentarmos resultados de pesquisas comportamentais, contextualizamos os resultados contando a história sobre os fatos que foram investigados. Assim, ampliamos o horizonte de compreensão de nossos clientes, como um facho de luz na escuridão, uma tocha brilhante no breu da ignorância comum.
José Carlos Sauer é Filósofo, Pesquisador em Comportamento Político e Diretor no Instituto Methodus. Participa de eleições no Brasil a vinte e três anos, orientando campanhas, planejando estratégias, pesquisando e auxiliando políticos a trafegar neste ambiente competitivo.