As eleições de 2022, desvelaram em símbolos, cores e vestimentas a ideologia política de significativa parcela dos eleitores brasileiros. Anteriormente, no ano de 2020, incorporamos nas pesquisas em Comportamento Político, alguns dos conceitos apresentados por INGLEHART E WELZEL na World Values Survey (WVS) – Pesquisa Mundial de Valores. O Conjunto das variáveis que utilizamos da WVS, estão correlacionados com a dimensão valores tradicionais x valores seculares-racionais. De acordo com os autores;
Quando a sobrevivência é incerta, a diversidade cultural aparece ameaçadora. Quando não há o suficiente para todos, os estrangeiros são vistos como forasteiros perigosos que tiram o sustento de alguém. As pessoas se apegam a papéis tradicionais de gênero e normas sexuais, valorizando regras absolutas e antigas normas familiares, na tentativa de maximizar a previsibilidade em um mundo incerto. De modo inverso, quando a sobrevivência passa a ser dada como certa, a diversidade étnica e cultural se torna cada vez mais aceitável – de fato, a partir de um determinado ponto, a diversidade não apenas é tolerada, mas se torna positivamente valorizada, porque é interessante e estimulante.
A partir destes conceitos, nos colocamos em movimento investigando os valores tradicionais e seculares do eleitor brasileiro.
Regularmente categorizamos posições políticas, utilizando os termos esquerda ou direita para distinguir campos ideológicos opostos, e com facilidade, identificamos seus representantes em manifestações públicas de políticos, partidos ou governos. Porém, a posição ideológica do eleitor não é identificada com tamanha facilidade. Mesmo quando observada, em manifestações públicas como comícios ou passeatas, estaremos diante da posição de uma fração dos eleitores. Portanto, se desejamos conhecer a posição ideológica dos eleitores de determinado país, estado ou município, deveremos investigá-la a partir de alguma variável que seja comparável ao longo do tempo. No caso em tela, utilizamos uma das variáveis da WVS, que renomeamos como régua ideológica, em nossos estudos. Vejamos como ela funciona.
Durante a realização das pesquisas o eleitor recebe em mãos uma régua com escala de 1 a 10, onde o um (1) representa a posição extrema esquerda e dez (10) extrema direita. Após compreender como utilizá-la, o entrevistado indica a posição com a qual se identifica, ao final registramos sua resposta.
No gráfico abaixo, apresentamos a posição ideológica dos eleitores da capital do Rio Grande do Sul, obtida em pesquisa do Instituto Methodus, durante o mês de abri de 2023.
Percorrendo a régua, identificamos que na posição um, extrema esquerda, estão 16% dos entrevistados, no seu oposto, posição dez extrema direita outros 14%. No centro da escala, posição 5 e 6 recebemos a maior carga de citações chegando a 43% dos entrevistados. Para as posições intermediárias 2, 3 e 4 a esquerda e no seu oposto à direita, posições 7, 8 e 9 observamos menor carga de citações, com percentuais que oscilam entre 6% e 3% dos entrevistados.
Agora, ampliando a compreensão sobre os dados anteriores, realizamos o agrupamento da escala ideológica, reunindo os eleitores situados a esquerda, ao centro e a direita. Obtemos um novo gráfico, com escala de 1 a 4 a esquerda, 5 e 6 ao centro e 7 a 10 a direita.
O novo agrupamento revelou a carga nas citações, entre a esquerda e a direita de nossa régua, chegando a primeira a 32% e a segunda a 25% dos entrevistados. Agora, que conhecemos a posição ideológica do eleitor porto-alegrense, poderemos questionar:
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- A posição ideológica do eleitor influenciará sua escolha nas eleições de 2024?
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- Políticos com forte identidade ideológica, de direita ou esquerda, possuem alguma vantagem em disputas eleitorais?
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- Eleitores posicionados ao centro possuem objeções a políticos que representem a esquerda ou direita?
Para responder a estas questões, optamos por testar nomes de políticos envolvidos em disputas eleitorais na capital, nos últimos três anos, e que sejam reconhecidos por suas posições ideológicas, são eles;
O atual Prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo – MDB, eleito no segundo turno da eleição de 2020, quando conquistou 370.550[1] votos.
A segunda colocada na eleição de 2020 na Capital, Manuela – PCdoB, que conquistou 307.745 votos no segundo turno.
O Candidato a Governador da eleição de 2022 no Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni – PL, que no segundo turno da eleição em Porto Alegre, conquistou 250.161 votos.
Após criteriosa seleção, apresentamos um novo gráfico, incluindo o desempenho de cada um dos escolhidos na régua ideológica.
Os resultados, indicam que o eleitor inclina-se em direção a políticos que estejam alinhados ao seu campo ideológico. Aqueles que se posicionaram a direita concentraram sua escolha em Onyx-PL. Os que situaram-se no centro, em maioria optaram por Sebastião Melo – MDB. A escolha por Manuela – PCdoB, percorre a régua da esquerda à direita chegando a posição 7 a direta do centro, sugerindo que seus eleitores possuem um largo espectro ideológico.
Um novo agrupamento será necessário, reorganizamos novamente nossa escala ideológica para, 1 a 4 a esquerda, 5 e 6 centro e 7 a 10 direita. Vejamos como esta nova informação pode contribuir na compreensão do comportamento ideológico do eleitor porto-alegrense.
Nossa investigação revelou informações exclusivas, que aumentam o conhecimento sobre a futura disputa a prefeitura da Capital em 2024.
Identificamos, após análise, que o eleitor porto-alegrense é influenciado por sua opção ideológica no momento da escolha de um candidato, principalmente por aqueles que estão situados nos extremos da escala. Observe o desempenho de Onyx – PL, ele conquista 73% das citações da direita e 27% do centro, mas não encontra eleitores que o apoiem a esquerda. Diferentemente de Onyx, Manuela – PCdoB caminha pela régua, saindo da esquerda onde obtém 64% das citações, chegando ao centro com 35% e alcançando à direita 13% das citações. Ambos, Onyx e Manuela, políticos reconhecidos por sua posição ideológica, lideram nos extremos da escala. Esta informação, responde a nossa segunda questão, confirmando que políticos com nítida identidade ideológica, serão privilegiados no momento da escolha por eleitores com a mesma matriz ideológica. O desempenho de Sebastião Melo – MDB, chama a atenção por sua liderança isolada no centro da escala, com 47% das citações, relembrando, a maioria dos eleitores havia escolhido o centro como posição ideológica. O Prefeito, conquista votos a esquerda 16% e a direita chegando a 39% das citações. Em ambas as posições Melo é o segundo colocado, revelando pluralidade na sua posição ideológica.
A escolha do eleitor que opta por Manuela ou Melo, possuí uma característica que nomeamos de transversalidade do voto. Políticos com essa característica, costumam colher votos ao largo de todo espectro ideológico, conquistando significativa vantagem nas disputas eleitorais acirradas.
Agora que você conheceu nossa régua ideológica, venha conosco! Vamos juntos explorar e analisar o comportamento do eleitor brasileiro.
José Carlos Sauer é Filósofo, Pesquisador em Comportamento Político e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou campanhas eleitorais nos estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas e Paraná.
[1] Fonte Tribunal Superior Eleitoral – T.S.E.