Quantas vezes você acorda e a primeira coisa que faz é pegar o smartphone para conferir Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp ou Twitter? O mundo das redes sociais está cada vez mais interligado à nossa existência, algo sem o qual não conseguimos mais viver. Existem aplicativos que fazem parte do nosso dia a dia e aos quais não estamos mais dispostos a renunciar, são instrumentos fundamentais sem os quais não conseguimos mais trabalhar. Eles se tornaram essenciais na medida em que a maioria de nós pensa que a “qualidade” da nossa vida pioraria drasticamente se não os tivéssemos.
Esta análise se baseará no paradoxo que estamos vivenciando com as redes sociais: por um lado, as usamos constantemente, por outro lado, não confiamos muito nelas quando precisamos buscar informações sobre assuntos da nossa cidade, país ou do mundo em geral. Para corroborar esta tese, vamos usar as pesquisas do “Reuters Institute – Digital News Report 2022“[1] (de agora em diante vou chamar esta pesquisa do DNR) e a pesquisa do Instituto Methodus realizada este ano na capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
O nível de abrangência da internet na população brasileira, segundo pesquisa do DNR, é de 75%[2], o que significa que três em cada quatro pessoas têm contato com alguma rede social ou site da internet para diversos fins. Desses 75% que lidam com a internet, de acordo com o gráfico abaixo, cerca de 64% dos brasileiros, atualmente, utilizam redes sociais para se informar semanalmente, sendo que uma variedade de plataformas é utilizada para esse fim[3].
Como podemos ver no próximo gráfico, o Facebook, antes líder nesse segmento, perdeu terreno para o YouTube, que se tornou a rede social mais popular para o consumo de notícias. Além disso, houve um aumento significativo no uso de redes visuais mais recentes, como o Instagram (35%) e o TikTok (12%), para se informar. Aplicativos de mensagens, como o WhatsApp (41%) e o Telegram (9%), continuam sendo importantes para discussões e compartilhamento de notícias[4].
Por outro lado, a pesquisa do DNR mostra a proporção de pessoas que estão muito ou extremamente interessadas em notícias entre 2015 e 2022. Neste gráfico foram selecionados os 5 países com a maior queda de pessoas muito ou extremamente interessadas em notícias, e o quarto país foi o Brasil. Entre 2015, quando o Brasil tinha um nível de interesse de 82%, e 2022, quando chegou a 57%, podemos ver como esse interesse diminuiu drasticamente em 25%.
Apesar disto a proporção de pessoas no Brasil que às vezes ou frequentemente evitam ativamente as notícias entre o ano 2017 e 2022 foi respectivamente: 2017 – 27%, 2019 – 34% e 2022 – 54%. Então podemos afirmar que esta proporção dobrou entre 2017 e 2022 (de 27% até 54%).
Resumindo, nos últimos dois gráficos temos uma queda drástica do nível de interesse em notícias (-25%) e consequentemente um aumento espantoso do nível de pessoas que evitam as notícias (+27%).
Neste ano, o Instituto Methodus realizou uma pesquisa em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de investigar como os entrevistados se informam sobre os acontecimentos na cidade e qual é o nível de confiança deles nos meios de comunicação, como a internet e as redes sociais (Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp, Twitter, YouTube e Telegram). Os resultados mostrados no gráfico abaixo indicam que o nível de pouca confiança foi significativamente maior em comparação com o nível razoável ou muito confiável.
Esses resultados se tornam ainda mais expressivos quando observamos o gráfico abaixo e constatamos que houve uma queda significativa na ‘Pontuação Geral de Confiança’ nas notícias desde 2015, passando de 62% naquele ano para 48% em 2022, de acordo com a pesquisa do DNR.
Aqui fica claro o paradoxo que estamos vivenciando: enquanto 83% da população brasileira obtém notícias por meio de mídias sociais e da internet em geral, temos uma queda de 14% na pontuação geral de confiança nessas mesmas notícias que absorvemos. A conclusão apresentada no trecho refere-se a um paradoxo relacionado à confiança nas notícias que consumimos por meio das mídias sociais e da internet. Por um lado (gráfico n.1), a maioria da população brasileira utiliza essas plataformas para obter informações (83%). Por outro lado (gráfico n.6), há uma queda na pontuação geral de confiança nessas mesmas notícias (14%).
Esse paradoxo pode ser explicado por diversos fatores. Em primeiro lugar, a internet e as mídias sociais têm proporcionado um acesso sem precedentes à informação, permitindo que pessoas de todas as partes do mundo tenham acesso a notícias e opiniões sobre diferentes assuntos. No entanto, essa facilidade de acesso também pode ter levado a uma proliferação de informações não confiáveis, muitas vezes difundidas de forma intencional ou não intencional.
Além disso, como foi apontado na nossa analise (gráfico n.5) o contexto político e social do Brasil nos últimos anos tem sido marcado por uma polarização e um clima de desconfiança em relação à mídia tradicional. Isso pode ter levado a um aumento da desconfiança nas informações divulgadas por esses meios e a uma busca por fontes alternativas de informação, muitas vezes menos confiáveis.
Diante desta situação, é importante que as pessoas estejam atentas à qualidade e à origem das informações que consomem. Talvez seja adequada uma frase que, em si, representa a essência do paradoxo: “Menos é mais”.
Talvez ter menos acesso a notícias possa ser melhor do que ter acesso a muitas notícias, mas com pouca qualidade e procedência duvidosa. O paradoxo se dá porque, embora as pessoas tenham mais acesso a informações do que nunca, a queda na confiança nas notícias que se consomem é significativa, o que sugere que, muitas vezes, ter menos acesso a notícias, mas com maior qualidade e confiabilidade, pode ser mais benéfico.
Este é o desafio que os futuros eleitores das eleições municipais de 2024 têm pela frente.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.
[1] “Reuters Institute – Digital News Report 2022”, Reuters Institute, acessado em 23 de março de 2023, //reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/sites/default/files/2022-06/Digital_News-Report_2022.pdf
[2] Ivi, p. 6.
[3] Ivi, p. 117.
[4] Ivi, p. 117.