Neste artigo, utilizando a pesquisa Vozes da Classe Média, examino as diferentes expressões do conservadorismo no Rio Grande do Sul, tomando como referência as características singulares de dois de seus representantes testados no levantamento: Luciano Zucco (PL) e Marcel Van Hattem (NOVO). Boa Leitura!
O Conservadorismo em Duas Faces: Zucco e Van Hattem no Eleitorado Gaúcho
A cena política do Rio Grande do Sul oferece um laboratório privilegiado para observar como o conservadorismo se manifesta entre os eleitores da Classe Média Gaúcha. Nesse contexto, dois nomes se destacam: Luciano Zucco (PL) e Marcel Van Hattem (NOVO). Ambos ocupam espaços relevantes dentro desse espectro, mobilizando perfis distintos de eleitores, embora compartilhem certas matrizes ideológicas que os aproximam.
Zucco e a Direita Popularizada
O eleitorado de Luciano Zucco carrega fortemente as marcas do bolsonarismo. Trata-se de um grupo predominantemente masculino, com maior concentração nas faixas etárias acima dos 45 anos. Seu perfil ideológico se ancora em pautas restritivas sobre temas estruturais, como a defesa do controle de fronteiras, um nacionalismo de viés protetivo e a adesão apenas parcial a propostas de igualdade salarial.
Ainda assim, não se mostra totalmente indiferente a questões sociais, revelando uma base heterogênea que, embora conservadora, conserva certa sensibilidade diante de pautas sociais.
O voto em Zucco, portanto, tende a ser menos doutrinário e mais pragmático: agrega eleitores que valorizam a ordem e a segurança, mas que não rejeitam totalmente a ação estatal quando vinculada a mecanismos de amparo social.
Para 2026, o grande desafio de Zucco será encontrar o ponto de equilíbrio entre a ala mais radical da direita — que mantém viva a lógica da polarização — e os setores moderados, dispostos a apoiá-lo desde que não reincida nos excessos que marcaram a campanha de seu antecessor, Onyx Lorenzoni, e que acabaram lhe custando a vitória em 2022.
Van Hattem e a Direita Liberal Ortodoxa
O voto em Marcel Van Hattem apresenta uma configuração mais ideologicamente consistente. Seus eleitores, em geral, possuem maior nível de escolaridade e renda, com presença destacada entre jovens-adultos de até 34 anos — um público produtivo, informado e conectado a discursos de eficiência e meritocracia.
Esse segmento tende a rejeitar a ideia de igualdade salarial e demonstra forte adesão ao princípio de que “cada um deve ser responsável por si, sem a ajuda do Estado”, consolidando um liberalismo de caráter ortodoxo.
Trata-se, portanto, de uma base socialmente mais restrita, mas ideologicamente coesa. Van Hattem encarna uma direita intelectualizada, alinhada a valores de mercado e princípios liberais clássicos. Contudo, sua menor ressonância nas camadas populares representa um desafio significativo em uma disputa majoritária, como a do Senado, que exigirá a ampliação de sua base de apoio para além do nicho liberal.
Ambos os candidatos compartilham um território conservador, no qual Estado mínimo, controle de fronteiras e apego à ordem constituem consensos. Mas a diferença entre eles é nítida:
Zucco encarna um conservadorismo popularizado, mais próximo das massas identificadas com o bolsonarismo e que combinam autoritarismo cultural com demandas sociais básicas.
Van Hattem, por sua vez, representa um conservadorismo elitizado, ancorado no liberalismo econômico, menos permeável ao pragmatismo e sustentado sobretudo por nichos instruídos e ideológicos.
Essa clivagem é decisiva para compreender o tabuleiro gaúcho. Zucco, na disputa ao Governo do Estado, pode se afirmar como liderança de massas da direita, ampliando sua presença para além da bolha liberal e impondo desafios consistentes aos adversários de esquerda. Já Van Hattem, ao disputar o Senado, tende a conservar prestígio entre eleitores urbanos e escolarizados, mas enfrentará maiores dificuldades para transformar capital ideológico em capital eleitoral de alcance majoritário.
O contraste entre ambos evidência que o conservadorismo gaúcho não é monolítico. Ao contrário, manifesta-se em camadas: de um lado, uma base popular que busca símbolos de autoridade e proteção; de outro, uma elite liberal que exige coerência programática. A capacidade da direita de articular essas duas facetas determinará, em grande medida, sua força nas disputas de 2026.
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José Carlos Sauer – Diretor do Instituto Methodus, especialista em comportamento político e graduado em Filosofia Política. Há mais de 25 anos atende disputas eleitorais, conduzindo pesquisas de opinião, interpretação de dados e análises, além do direcionamento estratégico para campanhas.