Se você acessou este artigo motivado pela divulgação dos resultados da disputa ao cargo de Governador do Rio Grande do Sul, convido-o também a ler a publicação anterior, dedicada à disputa pelo Senado. Essa leitura contribui para uma compreensão mais ampla da análise que apresentamos aqui.
Nossa investigação, como já mencionado em outras ocasiões, busca aprofundar a compreensão das motivações e escolhas do eleitor no momento da decisão de voto. Para isso, analisamos as preferências da Classe Média, um recorte valioso, que expõe as razões de uma parcela do eleitorado reconhecida por seu perfil mais crítico e informado.
No contexto atual, é importante destacar que os acontecimentos decorrentes da prisão domiciliar do ex-presidente, das manifestações de 3 de agosto e da incomum ocupação da mesa diretora do Congresso nos dias seguintes, catalisaram na figura do deputado federal Luciano Zucco (PL), a representação bolsonarista no estado, impulsionando sua projeção como postulante ao governo entre eleitores de classe média.
Em contraponto, Edegar Pretto (PT), representante da esquerda e diretamente alinhado aos princípios da administração Lula, surge como adversário direto de Luciano Zucco (PL) na disputa pelo governo do estado, configurando uma reedição da disputa de 2022.
Vale lembrar que, no primeiro turno daquela eleição, Onyx Lorenzoni (PL) obteve 2.382.026 votos, enquanto Edegar Pretto (PT) alcançou 1.700.374, ficando fora do segundo turno por apenas 2.441 votos. A equivocada estratégia de Onyx na etapa final ampliou sua rejeição, comprometeu suas chances de vitória e acabou favorecendo a reeleição de Eduardo Leite, que se consagrou mais pelas circunstâncias da disputa do que pelos méritos de sua gestão.
Naquele ano, a partir da análise de nossas pesquisas, já apontava a possibilidade concreta de uma disputa entre Onyx Lorenzoni e Edegar Pretto, cenário que quase se confirmou no primeiro turno. O resultado acabou adiando a definição de um confronto direto entre esquerda e direita, que agora ressurge com ainda mais intensidade na disputa entre Luciano Zucco e Edegar Pretto.
Por sua vez, Juliana Brizola (PDT) desponta como um fator capaz de tensionar essa polarização. Seu bom desempenho nas eleições de 2024 em Porto Alegre, aliado ao discurso de “servir às pessoas”, reforça seu potencial de atrair eleitores órfãos de Eduardo Leite, sobretudo aqueles que demonstram resistência em apoiar seu pretenso herdeiro político, o atual vice-governador. Resta saber se esse capital político será suficiente para consolidá-la como terceira via competitiva ou apenas como força de dispersão eleitoral.

Na fotografia atual das intenções de voto, o cenário confirma uma polarização clara entre Edegar Pretto (38,1%) e Luciano Zucco (31,6%), com Juliana Brizola (12,3%) se posicionando como via moderada, capaz de influenciar o equilíbrio entre os dois polos. MDB, com Gabriel Souza (7,8%), PP, com Covatti Filho (5,0%), e PSDB, com Paula Mascarenhas (1,8%), apresentam desempenho modesto e dificuldades de penetração no eleitorado de classe média, que tende a concentrar votos em candidaturas mais conhecidas e em discursos já testados no pleito de 2022.
Nosso mosaico de eleitores de classe média vai tomando forma e indica que as disputas vindouras exigirão muito mais do que retórica e imagem pessoal. Esse eleitorado tende a avaliar os candidatos a partir de seus valores, capacidade de gestão, preparo técnico e habilidade política para conduzir o Estado em um período de instabilidade e desafios. Para a classe média, a escolha não se resume aos candidatos em si, mas ao futuro que desejam para o Estado — e é nessa chave que se definirá o rumo da eleição gaúcha.
José Carlos Sauer – é graduado em Filosofia e mestrando em Filosofia Política pela PUC-RS. Com 25 anos de experiência em campanhas eleitorais no Brasil, é diretor do Instituto Methodus e consultor especializado em comportamento político. Atua com excelência na condução de pesquisas de opinião, interpretação de dados e desenvolvimento de análises estratégicas.
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Pesquisa Vozes da Classe Média – Metodologia
A pesquisa foi realizada com 600 entrevistas digitais, aplicadas por meio de plataformas acessadas via smartphones, tablets e computadores. O recrutamento dos respondentes ocorreu de forma orgânica e dirigida, durante a navegação cotidiana em ambientes digitais.
A amostra foi calibrada com base nas variáveis sexo, idade, escolaridade, renda e região, assegurando a representatividade do eleitorado gaúcho. A margem de erro é de ±4 pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
O público-alvo da pesquisa é composto por eleitores com ensino médio ou superior completos, mais de 35 anos e inserção ativa no mercado de trabalho. Esse grupo representa aproximadamente 40% do eleitorado do Rio Grande do Sul e é especialmente sensível às variações econômicas e à efetividade das políticas públicas, sobretudo nas áreas de segurança, emprego, educação e desenvolvimento regional.
A pesquisa utilizou a Methodus ID – Inteligência Digital, metodologia exclusiva do Instituto Methodus para coleta, calibração e análise de dados via plataformas digitais, com foco em representatividade eleitoral.