Em nossa divulgação anterior destaquei quatro temas que devem ser investigados pelos partidos que pretendem lançar candidato(a)s nas próximas eleições em Porto Alegre:
- A ausência de motivos que justifiquem uma mudança no futuro beneficia exclusivamente o atual mandatário da administração.
- A inexistência, neste momento, de um representante legítimo da extrema direita na disputa reduz dramaticamente a possibilidade de reedição da polarização observada na capital em 2022.
- A transversalidade do voto em Sebastião Melo, que conquista votos na direita, centro e esquerda, adulterando a identidade ideológica de seus opositores, deixa os eleitores com a sensação de que situação e oposição não concorrem entre si.
- A falta de reconhecimento na vocação para governar de boa parte dos candidatos testados, relatada pelos eleitores, é outro fator que deve ser observado para compreensão destes resultados.
De posse destes conceitos, avançamos para as últimas simulações testadas em pesquisa.
Na terceira simulação estimulada incluímos o nome de Maria do Rosário – PT, confrontando a candidata do partido dos trabalhadores com os demais nomes apresentados nas simulações anteriores.
As citações recebidas pela candidata do PT, nesta simulação, são oriundas dos mesmos eleitores que optaram por Juliana Brizola-PDT (13%), após por Luciana Genro-PSOL (17%) e agora Maria do Rosário – PT, 25%. Observe que o percentual de Sebastião Melo – MDB não se modificou, permanecendo na casa dos 48% na segunda e terceira simulações independente dos oponentes que enfrenta.
Portanto, existe uma parcela de eleitores porto-alegrenses dispostos a votar na oposição a Melo, independente de qual seja o candidato apresentado. O mesmo eleitor, em percentuais menores, quando não encontra nas simulações nomes de sua preferência permanece na indecisão (não sabe). Os demais nomes testados, Dr. Thiago, Vieira da Cunha, Mari Pimentel e Nadine Anflor, não são beneficiados com mudanças nas simulações, permanecendo, praticamente, com os mesmos resultados nas simulações 1, 2, 3 e 4.
O mesmo comportamento é observado nesta última simulação, onde os eleitores que optaram pelas candidatas anteriores, agora optam por Manuela-PCdoB, que recentemente divulgou em suas redes sociais que não pretende ser candidata nas próximas eleições.
Há uma redução dos votos em Melo-MDB que, nesta simulação, alcança 46% pois uma pequena parcela de seus eleitores opta pela candidata do PCdoB, quando ela está na disputa.
Para finalizar as divulgações das simulações eleitorais, apresentamos o resultado da rejeição aos nomes que foram testados. Observo que realizamos uma rejeição múltipla, onde os entrevistados podem rejeitar mais de um nome, portanto, a soma dos percentuais pode ultrapassar cem porcento.
Os eleitores de Sebastião Melo – MDB, rejeitam prioritariamente as candidatas do PSOL, PT e PCdoB, da mesma maneira os eleitores que optaram pelos partidos de oposição, em maioria rejeitam Melo.
Os índices de rejeição, obtidos por todos os candidatos, não impedem a sua participação em uma futura disputa eleitoral. Em grande parte, assim como na simulação espontânea, a rejeição se dá por diversos motivos como desconhecimento da cidade, reconhecimento da falta de vocação para governar, desconhecimento do candidato, desinteresse ou frustação.
Estes resultados podem ser interpretados de diversas maneiras e, em caso de disputa, é valioso que os candidatos conheçam as motivações da rejeição ao seu nome. Somente com a aproximação da disputa eleitoral, quando pré-candidatos serão lançados, será possível conhecer os percentuais de rejeição que realmente afastam as chances de sucesso na disputa eleitoral.
Análises históricas nos ensinam muito sobre acontecimentos políticos e a história da próxima eleição já está sendo escrita, preenchida por emoções que põe em marcha sentimentos coletivos como esperança, confiança, aprovação e orgulho.
Não encontramos, neste momento, justificativas plausíveis para mudança, porém a política tem a sua dinâmica e somos sabedores que o tempo a ser percorrido até as eleições de 2024, se bem ocupado por partidos, dirigentes e candidatos modificará consideravelmente os resultados que encontramos hoje.
Ao relembrar os resultados de pesquisas eleitorais realizadas pelo Instituto Methodus em dezembro de 2019, é possível comparar resultados quando observamos a história política a partir de nosso tempo.
Naquele ano, o Prefeito do PSDB, que chegava ao fim de seu mandato, detinha uma reprovação recorde chegando à casa dos 78%, no mesmo período, a maioria dos entrevistados considerava Olívio Dutra-PT como o melhor prefeito dos últimos 16 anos na capital.
Sentíamos os reflexos da eleição presidencial de 2018 quando 436.643 eleitores porto-alegrenses deram a Jair Bolsonaro a vitória naquele segundo turno. Em contrapartida, a liberdade de Lula no dia 8 de novembro de 2019, reascendeu a esperança da esquerda, amplificando a polarização nacional que iria ingressar nas disputas municipais de 2020 por todo o Brasil. Manuela-PCdoB, que havia disputado a eleição nacional como vice de Fernando Haddad-PT e com a anuência do ex-presidente Lula, torna-se candidata a Prefeita de Porto Alegre.
Ainda em 2019, 42% dos eleitores não tinham preferência por nenhum partido político e ter experiência para administrar (73%) e conhecer os problemas da cidade (68%) eram os atributos preferenciais que desejam encontrar em um(a) candidato(a) a prefeito(a) de Porto Alegre.
Em dezembro de 2019, pesquisas do Instituto Methodus registravam Manuela com 28% das intenções de voto, contra 14% de Sebastião Melo e 11% de Juliana Brizola.
Observe, encontrávamos em 2019 o mesmo percentual que encontramos hoje para Manuela, 27%. Da mesma maneira, 74% dos eleitores não sabiam em quem votar na menção espontânea e 26% nos diziam que tinham pouca chance de votar em Sebastião Melo, mesmo percentual que o prefeito detém hoje na sua rejeição, 27%.
No segundo turno da eleição de 2020, quatrocentos e quatro mil (404.000) eleitores desalentados não destinaram o voto a nenhum dos candidato(a)s a prefeito(a), selando o destino da candidata do PCdoB e ajudando a eleger o prefeito com a menor votação na história dos últimos 20 anos na Capital.
Encerro as divulgações das simulações eleitorais, com a certeza de que muito está por vir e que os próximos meses serão intensos, tanto em negociações políticas quanto na escolha dos candidatos que representarão as diversas matizes políticas da próxima eleição municipal em Porto Alegre.
Obrigado e até a próxima!
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, Pesquisador em Comportamento Político no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia – Labô e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou políticos, governos e instituições nos Estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Tocantins, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e Goiás.