A eleição municipal de 2024, que ocorrerá daqui um ano, já está na pauta das máquinas partidárias e movimentam os bastidores da política porto-alegrense. Para a situação, que pretende concorrer à reeleição, as ações serão prioritariamente a ampliação ou reedição da coligação partidária que deseja se manter no poder. Para os demais partidos, que ocupam o campo da oposição, as articulações passam, neste momento, pela escolha de nomes de possíveis candidatos(as) e por exaustivas negociações para composição de coligações.
Dirigentes partidários experientes são sabedores que o êxito absoluto na política não existe. Antes da disputa eleitoral dedicam-se à negociação, cientes que aspirações serão frustradas, compromissos serão desfeitos e ideais absolutos serão colocados em xeque. Ao final, caso sejam exitosos em suas aspirações, pagarão o preço necessário pela partilha do poder conquistado. O que está em jogo, neste momento, é a capacidade dos dirigentes em articular as melhores opções.
Anteriormente, quando os recursos das campanhas eleitorais vertiam do mundo privado, as candidaturas e coligações eram debatidas em público, aproximando eleitores e políticos através de entrevistas, eventos e ações partidárias. A necessidade de apoio financeiro, político e social orientava, em grande parte, a decisão sobre quem seriam os candidatos representantes dos partidos ou coligações. Era perceptível o esforço das máquinas partidárias para apresentar candidaturas competitivas.
A partir do início do financiamento público de campanha, como alternativa a proibição do privado e com expectativa de extinguir a corrupção, é perceptível a perda de competitividade de parcela significativa das candidaturas apresentadas aos eleitores. Portanto, se anteriormente ser competitivo era condição prioritária para participar da disputa, hoje, com a garantia de recursos públicos para realização das campanhas, as prioridades passaram a ser outras. Atualmente, as escolhas de candidatos e a composição de coligações são realizadas, em maioria, no silêncio dos gabinetes políticos.
Por óbvio, a introdução não esgota a complexidade das negociações as quais partidos e candidato(a)s estão submetidos, mas este recorte possibilita que eu apresente a você o cenário político que envolve a realização de nossa segunda pesquisa eleitoral em Porto Alegre.
Inicialmente programada para ser realizada no mês de Setembro, optamos por adia-la para Novembro, afastando-nos dos eventos climáticos que afligiram o Estado do Rio Grande do Sul nos últimos dois meses. Foi necessário aguardar que a vida dos Gaúchos e porto- alegrenses retornasse à normalidade, ou próximo dela, para ir a campo e ouvir a opinião dos eleitores.
O que teremos pela frente?
Este artigo inaugura uma série de divulgações que serão veiculadas exclusivamente no site do Instituto Methodus. Aqui, você terá acesso a análises, gráficos e simulações que percorrerão cenários das possíveis disputas a prefeito(a) da Capital. Ainda, investigamos o comportamento do eleitor, que nos presenteou com informações exclusivas sobre a sua avaliação da Câmara de Vereadores e sua confiança (ou falta dela) em personalidades políticas conhecidas. A decisão do voto feminino, a posição ideológica dos eleitores, a avaliação de governo e a educação municipal, os meios que influenciam a decisão e a relação do eleitor com o voto também foram temas examinados.
Não impomos nossas convicções ao eleitor!
Todo pesquisador deve, antes de tudo, ouvir, para posteriormente pensar sobre o tema que pretende conhecer. Ao nos despirmos de nossas convicções nos deslocamos para o campo da isenção, que não é uma tarefa fácil e poucos se dispõe a realizá-la.
Para exemplificar este desafio, compartilho com você os relatos que ouvimos durante a investigação etnográfica que realizamos anteriormente a realização desta pesquisa que começamos a divulgar hoje.
Nos meses de setembro e outubro percorremos a cidade ouvindo a opinião do eleitor sobre: Sebastião Melo- MDB, Dr. Thiago – UNIÃO BRASIL, Viera da Cunha – PDT, Manuela D`Ávilla – PCdoB, Maria do Rosário-PT, Juliana Brizola – PDT, Luciana Genro – PSOL, Nadine Anflor-PSDB e Mari Pimentel – NOVO.
Recebemos dos eleitores opiniões valiosas sobre os possíveis candidato(a)s, que foram posteriormente testados na pesquisa quantitativa. Abaixo apresento um resumo desta etapa exploratória. Vejamos:
Sebastião Melo- MDB
é um Prefeito reconhecido como conhecedor da cidade e atento a todos. É um sujeito que gosta de ser prefeito, tem carinho pela cidade, conhece seus becos e vielas, e sabe o nome das pessoas pelos locais que circula. Para o eleitor, Melo tem propósito, ele queria ser o prefeito e lutou por isso, se alguém acha que está ruim com ele, pior seria sem ele!
Dr. Thiago – UNIÃO BRASIL
Quem? Insisto explicando um pouco mais, o Deputado Dr. Thiago, ele foi Vereador aqui da cidade! Poucos sabem algo sobre ele, alguns lembram do nome e de sua atividade como médico, mas não o vinculam imediatamente como candidato a prefeito da capital.
Viera da Cunha – PDT
Lembram dele na campanha para Governador, mas não sabem dizer quais causas defende. Insisto: Lembra do Brizola, é do mesmo partido do Vieira. Sabe moço, desse aí eu já ouvi falar, mas não sei dizer nada dele não! A lembrança do Brizolismo e seus valores está muito distante da realidade desta população, mesmo insistindo na lembrança da principal liderança do PDT, ficamos sem muitas respostas.
Manuela D`Ávilla – PCdoB
Não há quem não saiba falar dela, seu nome causa reações, positivas e negativas, sua luta é reconhecida e para muitos é uma política vinculada a cidade. Ela é guerreira, sofreu muito na eleição passada! É jovem, tem muito tempo pela frente e pode ser prefeita sim! Olha eu não gosto dela, mas não falo mal dela não! Foram diversos os depoimentos, mas um em especial chamou atenção. Gosto dela e respeito suas posições, o que falta para ela ser prefeita é conhecer a cidade.
Maria do Rosário-PT
Rosário é conhecida dos porto alegrenses, sabem que é, sabem que é Deputada. Não vinculam seu nome com a cidade, para este eleitores sua candidatura é algo improvável. Questionam, mas ela conhece Porto Alegre, estando tanto tempo fora? Não sei não, não acredito que ela vai deixar de ser Deputada para ser Prefeita.
Juliana Brizola – PDT
Com um pouco de insistência encontramos eleitores que conhecem Juliana. Olha, ela fala muito daquele avô dela! Não sei não, suas ideias são da época do avô, o mundo mudou, não sei se votaria nela. Poderia ser mais autêntica! Para o eleitor, Juliana deveria mostrar a que veio, explorando menos a imagem do avô.
Luciana Genro – PSOL
Gente, a Luciana! Claro que sei quem é, mas para prefeita? Olha eu gosto dela, não gosto do partido dela! Não sei, o pai foi um bom Governador, mas tenho dúvidas sobre ela. Não gosto dela! O nome de Luciana promove debate e todos tem a sua opinião.
Nadine Anflor-PSDB
Não encontramos eleitores que soubesse quem é Nadine. E a Delegada Nadine, você já ouviu falar? Talvez por ter ingressado recentemente na política Nadine não seja lembrada.
Mari Pimentel – NOVO
A Vereadora? Olha eu já ouvi falar, mas não sei dizer nada dela. Não conheço. Mari não foi lembrada pelos entrevistados, limitando muito a obtenção de alguma percepção mais elaborada sobre sua imagem.
Estes relatos serão para muitos uma novidade. Como alertei anteriormente, ouvir o eleitor sem o julgamento de suas opiniões é tarefa de pesquisador!
Vamos a pesquisa!
Vou revelar a você duas informações que serão primordiais para compreensão dos resultados que divulgaremos nas próximas semanas. São elas: o merecimento de reeleição do atual prefeito e a avaliação de sua administração.
Com a palavra o eleitor:
Não precisamos detalhar os números, você já percebeu que a maioria dos eleitores de Porto Alegre desejam a reeleição do atual prefeito, o que nos leva a duas perguntas que responderemos ao longo das divulgações: Aqueles que não desejam a reeleição, desejam a mudança? Optar por reeleger o atual Prefeito, é sinônimo de aprovação do seu governo?
Irei analisar estas e outras questões na próxima divulgação, quando apresentarei a você as simulações eleitorais.
E o governo municipal, como está avaliado?
Avaliações de administração representam a relação que o cidadão tem com o seu local de moradia ou trabalho, se em seu bairro serviços como limpeza, iluminação, coleta de lixo e transporte funcionam, a avaliação será sempre positiva. Portanto, estamos diante de uma administração que é considerada eficiente para uma significativa parcela dos porto-alegrenses. O destaque vai para os eleitores que desejam a reeleição (48%), destes, 98% avaliam a administração como regular, boa ou ótima. Da mesma maneira, aqueles que não desejam a reeleição (42%), consideram a administração como regular ou boa, alcançando 51% dos respondentes.
Encerro o artigo destacando: eleitores se interessam por políticos que demonstrem propósito, conhecimento e capacidade de governar a cidade, em detrimento de partidos e posições ideológicas que, para eles, não são prioridade.
Terça feira, 7 de novembro, divulgaremos as simulações eleitorais.
Até breve!
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, Pesquisador em Comportamento Político no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia – Labô e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou políticos, governos e instituições nos Estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Tocantins, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e Goiás.