Goiás é o decimo primeiro estado em população, revelado nos resultados do último censo realizado em 2022. Enquanto a população brasileira cresceu 6,5% chegando a 203,1 milhões de pessoas, o estado de Goiás cresceu 17,6%, mais que o triplo da média nacional, chegando a 7.055.228 milhões de pessoas. Sua capital Goiânia é a decima capital mais populosa do país, chegando a 1.437.237 de pessoas em 2022, com crescimento chegando à casa de 10,40% da população quando comparado ao censo anterior de 2010.
De acordo com os dados divulgados pela Assembleia Legislativa de Goiás – “O Centro-Oeste continua sendo a região menos populosa do Brasil, com apenas oito de cada 100 brasileiros, mas foi a região que mais cresceu (1,23% ao ano, única taxa anual acima de 1% entre as cinco regiões do país e mais que o dobro da brasileira, 0,52%)”. Vale destacar “A Concentração Urbana de Goiânia, com 2.480.667 habitantes, foi a segunda que mais cresceu no país entre o Censo anterior e o atual (1,49% ao ano)”, ainda “A capital ganhou 135 mil habitantes desde 2010, totalizando 1.437.237 em 2022, um aumento de 10,4% no período, ou 0,83% ao ano. Trata-se de um crescimento alto em âmbito nacional (terceiro maior entre o dos 20 municípios mais populosos do Brasil)”.
Cresceram, em população, mais que Goiás, apenas Roraima, Santa Catarina e Mato Grosso. O avanço do Estado tanto em população quanto em sua economia interna, revelados nos dados do último censo, instigam-nos a pesquisar a evolução de seu eleitorado.
Analiso neste artigo a série histórica dos últimos vinte (20) anos das eleições na Capital do Estado, Goiânia.
Posicionada em 10º lugar no ranking das maiores cidades brasileiras, Goiânia se destaca por ser um dos maiores colégios eleitorais do Centro-Oeste, crescendo em população e na quantidade de eleitores, chegando à eleição de 2022 com 1.034.132 eleitores aptos a votar. Se, no ano 2000, Goiânia tinha 682.517 eleitores, em vinte anos o número de eleitores cresceu 51,5% acrescentando, neste período, aproximadamente 351.000 novos eleitores. Outro fator importante é a experiência destes eleitores com seguidas votações em nomes conhecidos da política goianiense e que ao longo deste período dominaram as disputas eleitorais na Capital.
Portanto, falamos de um contingente de eleitores que é impactado pelo maior crescimento populacional da região nos últimos anos, inclusive pela migração interna de eleitores de outros estados do país. Se, por um lado, observamos a longa relação do eleitorado goianiense com os candidatos locais, também devemos considerar que estes novos eleitores não possuem o conhecimento nem a lembrança das realizações políticas dos prefeitos que governaram a capital de 2000 a 2020. Partimos da eleição de 2000, ano em que Pedro Wilson se elege Prefeito pelo PT na capital. O Gráfico abaixo, apresenta as disputas de primeiro turno a Prefeito da Capital de 2000 a 2020.
No histórico observamos o desempenho das últimas seis eleições, de imediato destacamos o crescimento numérico de eleitores aptos. Tal crescimento, deveria acompanhar a votação dos candidatos a cada eleição, mas após 2008 quando Iris-MDB conquista a maior votação da série histórica, o que se observa é a sucessiva redução de votos nos candidatos nas disputas posteriores.
Mesmo Iris-MDB em seu retorno na eleição de 2016 não alcança sequer o resultado de sua primeira eleição em 2004, quando chegou a 299.912 votos nominais contra 277.074 em 2016. O que poderia estar ocorrendo? Leigos costumam analisar estes dados sem comparar eleição após eleição, afastando um elemento primordial de compreensão da série histórica: me refiro ao comportamento do eleitor.
Os resultados revelam que há algo que não deve ser desprezado! Para isso destaco três fatores principais: em primeiro a sucessiva disputa dos mesmos partidos na capital goianiense que revezaram-se no poder nos últimos 20 anos. Como já mencionei anteriormente, a experiência com sucessivos governos do MDB e PT, pode ter “cansado” o eleitor que, agora, frustrado pela falta de realizações e por promessas não cumpridas, deixa de votar nos mesmos partidos. Em segundo, o envelhecimento dos eleitores, aqueles que tinham 20 anos em 2000, agora estão na casa dos 40 anos. Este amadurecimento altera as expectativas, seguido pela chegada de uma nova geração de eleitores que possuem outras exigências, provavelmente não contempladas nos discursos e planos de governo apresentados pelos candidatos. O terceiro, a constante desistência dos eleitores em votar, este fenômeno vem crescendo nas capitais brasileiras, o nomeamos como Desalento Eleitoral, ou a desistência do eleitor na tentativa de nominar seu voto.
Observamos no próximo gráfico que, o Desalento Eleitoral que é a soma dos votos brancos, nulos e abstenções, constitui um contingente significativo de votantes que se retiram da eleição afetando diretamente seus resultados. Vejamos o que ocorreu com o Desalento nas últimas seis eleições em Goiânia.
Este novo gráfico apresenta em laranja os votos nominais, que é a soma total dos votos destinados a algum candidato nos primeiros turnos das últimas seis eleições. Em vermelho o Desalento Eleitoral, revelando que é este o segmento de eleitores que mais cresceu nas últimas eleições em Goiânia. Se considerarmos os resultados a partir da eleição de 2004, os desalentados ultrapassaram o número de votos obtidos pelos segundos colocados na disputa de primeiro turno, chegando ao seu ápice no primeiro turno de 2020, quando 386.577 mil eleitores deixam de votar em algum dos candidatos.
Observe que os desalentados são superiores a soma dos votos alcançados por Maguito-MDB e Vanderlan-PSD juntos, os dois candidatos chegam a 365.943 votos contra uma expressiva maioria que não votou naquela eleição.
Este fenômeno, o Desalento, é ignorado pela maioria das campanhas no Brasil. De um modo geral é possível afirmar que, os candidatos que detém mandato e buscam a reeleição são os beneficiados com uma quantidade menor de votos em disputa, já aqueles que ingressam na disputa sem mandato, ou sem poder, e que necessitam conquistar votos de eleitores insatisfeitos ficam em desvantagem diante desta redução de votos úteis disponíveis.
Mas porque o eleitor se retira das eleições? Soubemos por estudos conduzimos pelo Brasil e realizados com os Desalentados que a frustração, o medo, o ódio e a indignação estão entre as principais justificativas para o abandono do voto.
Há eleitores não convivem com a renovação dos quadros políticos, para estes, a sucessiva falta do cumprimento das promessas de campanha e a repetição das velhas disputas é percebida como um verdadeiro estelionato eleitoral e a frustração instala-se suprimindo o desejo de votar.
A indignação, o medo e o ódio são outros fatores imobilizadores. Diferentemente do que se pensa, as campanhas fundamentadas em fake News, em promessas falsas e na agressividade são promovedoras do desinteresse do voto, afastando eleitores que não suportam sequer ouvir falar de política!
Serão somente estes os motivos para o crescente Desalento Eleitoral na capital do Estado de Goiás? Vejamos o que aconteceu nas eleições em que houve disputa de segundo turno na eleição municipal. Os eleitores modificaram sua decisão no segundo turno?
Nas eleições em que houve disputa de segundo turno, identifica-se o crescimento numérico do Desalento Eleitoral, chegando aos surpreendentes 443.688 desalentados em 2020. Observo, independentemente do vencedor da eleição naquele ano em Goiânia, que o aumento dos desalentados entre o primeiro e o segundo turno, 57.111 eleitores, decidiram aquela eleição, pois, esta quantidade de eleitores supera a diferença entre o primeiro e o segundo colocado que foi de ínfimos 27.461 votos.
A análise histórica que apresentamos não afasta demais acontecimentos das eleições de Goiânia, mas introduz um novo elemento para reflexão, o Desalento Eleitoral.
Conhecer suas motivações, estabelecer um novo diálogo, compreender as frustrações e buscar respostas verdadeiras à sua indignação deve ser a prioridade de partidos e dirigentes políticos que desejam competir nas próximas eleições municipais de 2024. Aprendemos que é preciso antecipar-se ao ano da disputa, iniciando em cada região, ações fundamentadas em estudos que auxiliem aos partidos a construir estratégias e narrativas convincentes e capazes de conquistar a atenção dos eleitores desalentados.
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, Pesquisador em Comportamento Político no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia – Labô e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou políticos, governos e instituições nos Estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Tocantins, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e Goiás