Imagine o cenário político como um grande teatro, onde cada candidato busca seu lugar sob os holofotes. As pesquisas eleitorais, com suas perguntas espontâneas e estimuladas, são como o termômetro que mede o calor de cada performance.
Quando um pesquisador aborda um eleitor na rua e pergunta “Em quem você votaria?”, sem oferecer opções, é como se estivesse pedindo ao público para aplaudir seus atores favoritos sem olhar para o programa do espetáculo. Quem recebe os aplausos mais entusiasmados? Geralmente, são aqueles que conseguiram deixar uma impressão duradoura, cujos nomes estão na ponta da língua do eleitorado.
Este é o poder da pergunta espontânea. Ela revela quem está realmente ressoando com o público, quem conseguiu criar aquela conexão que faz o eleitor lembrar seu nome sem precisar de dicas. É como ser a música que todos cantarolam sem perceber, o refrão que gruda na mente.
Por outro lado, quando o pesquisador apresenta uma lista de nomes, é como se estivesse mostrando o elenco completo da peça. De repente, o eleitor se vê diante de opções que talvez nem soubesse que existiam. Aquele ator coadjuvante que sempre faz um bom trabalho, mas raramente rouba a cena, agora tem sua chance de brilhar.
Esta é a força da pergunta estimulada. Ela nivela o campo de jogo, dando a cada candidato, conhecido ou não, a oportunidade de ser considerado. É como dar a cada ator a chance de fazer seu monólogo, independentemente de quanto tempo esteve no palco até então.
Para um candidato, navegar entre esses dois tipos de pergunta é como um malabarista tentando manter várias bolas no ar ao mesmo tempo. Se ele se sai bem nas perguntas espontâneas, é sinal de que sua mensagem está ecoando, que ele conseguiu criar aquele “burburinho” tão desejado. É como ser o assunto do intervalo, o tema das conversas no cafezinho.
Mas e se o candidato só aparece quando seu nome é mencionado na lista? Bem, isso pode ser tanto um desafio quanto uma oportunidade. É como ser aquela joia escondida, aquele restaurante maravilhoso que ninguém conhece… ainda. O desafio está em transformar esse reconhecimento passivo em lembrança ativa.
Estrategicamente, é um jogo de xadrez. Um candidato com alta lembrança espontânea pode focar em consolidar sua posição, como um rei bem protegido no tabuleiro. Já um candidato com bom desempenho apenas nas estimuladas precisa ser mais agressivo, como um cavalo fazendo movimentos ousados para surpreender os oponentes.
A diferença entre os resultados espontâneos e estimulados é como o espaço entre o que o público já conhece e o que está disposto a considerar. É neste espaço que as campanhas podem trabalhar, moldando narrativas, criando momentos memoráveis, transformando o desconhecido em familiar.
Para o eleitor, essa dança entre o espontâneo e o estimulado reflete o próprio processo de decisão do voto. Às vezes, decidimos baseados naquilo que nos vem à mente imediatamente; outras vezes, precisamos de um lembrete das opções disponíveis para fazer uma escolha informada.
No fim das contas, essas pesquisas são mais que números em um gráfico. São o pulso da democracia, captando os sussurros e os gritos do eleitorado. Para os candidatos, são mapas e bússolas, guiando-os através do terreno acidentado da opinião pública. Para os eleitores, são espelhos, refletindo seus pensamentos coletivos, às vezes surpreendendo-os com suas próprias inclinações.
Assim, entre o espontâneo e o estimulado, entre o lembrado e o considerado, desenrola-se o drama da política. Cada pergunta, cada resposta, é um ato neste grande espetáculo democrático, onde o final da história está sempre nas mãos – e nas urnas – do povo.
“A opinião pública é mais forte que o legislador ou o executivo.” Abraham Lincoln
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.