As cheias de maio de 2024 deveriam ser apenas uma triste lembrança em nossas memórias.
Durante o mês de maio de 2024, enfrentamos o maior evento climático de nossos tempos. Foram dias marcados pela desesperança em relação ao futuro. Naquele período, realizamos uma pesquisa inédita com moradores de Porto Alegre, atingidos ou não pelas cheias, para investigar os impactos nas dimensões cotidianas, econômicas, psicológicas, sociais e comunitárias que vinham afetando os moradores da capital.
Ao final do estudo, tornou-se evidente a perda de legitimidade das autoridades avaliadas e para a maioria dos entrevistados, a vida em Porto Alegre levaria mais de um ano para retornar à normalidade. Sentimentos como indignação, frustração, tristeza, impotência e desgosto foram relatados por cerca de 50% dos participantes, revelando uma profunda falta de perspectiva em relação ao futuro.
O tempo passou. Multiplicaram-se as promessas, as propagandas e as tentativas de importar soluções de fora, como dos Países Baixos. Reedições de velhos discursos se sucederam, sustentadas por uma fé quase cega no futuro. Afinal, somos grandes. Somos fortes. Mas até quando só isso basta?
Chegamos a 2025, agora no mês de junho, com uma nova e histórica enchente. Diferente da anterior, ela ainda não invadiu muitas ruas da capital, tampouco foi narrada ao vivo pelos veículos de comunicação. Foi uma cheia silenciosa e distante, que atingiu principalmente o interior do estado, deixando novamente para trás desabrigados e perdas.
Para muitos, foi uma cheia que reavivou lembranças amargas, elevou a ansiedade e, mais uma vez, colocou em dúvida nossa capacidade de reconstrução. Muito já se disse até aqui e, mais uma vez, surgem explicações que responsabilizam a quantidade de chuva e sua concentração em curto espaço de tempo. Mas o que é apresentado como ineditismo talvez revele apenas o velho conhecido: o descaso e a ignorância diante do que, para qualquer gaúcho, já não deveria ser surpresa.
Somos um estado de extremos. Conhecemos como poucos a troca das estações do ano e sabemos como ninguém os períodos de cheias e de secas que marcam nosso território. Sentimos, como parte da rotina, a força dos ventos, das águas, do sol, da neve e do frio. Não somos ingênuos. Não nos deixamos enganar pela crença pueril de um Rio Grande mais forte, cuja resiliência existe apenas nos discursos de gabinete e nas engrenagens frias da burocracia.
Somos um povo permanentemente desafiado, que soube resistir ao longo do tempo, tornando-se referência nacional por nossa força de trabalho e prosperidade. Somos gaúchos, aferrados à tradição e orgulhosos de nossas conquistas, reféns de discursos retóricos e desculpas apressadas, palavras que ignoram quem somos e desrespeitam tudo o que construímos.
Diante desse cenário, torna-se urgente realizar um novo estudo: compreender o que se passa na mente de nossos conterrâneos. Mais uma vez, daremos voz à classe média, um grupo que se mostra indignado, cansado e, cada vez mais, disposto à mudança.
Nos acompanhe e saiba tudo sobre a nova edição da Pesquisa:
Vozes da Classe Média – Entre a Lama e o Voto
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, pesquisador em comportamento político, consultor estratégico, analista de dados e diretor do Instituto Methodus. Com mais de 25 anos de experiência no cenário eleitoral brasileiro, destaca-se na análise de tendências e no uso inteligente de dados para estratégias competitivas eficazes.
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