Nos últimos vinte anos, o Tocantins viveu uma sucessão de rupturas políticas que transformaram a instabilidade em rotina. Sete trocas de comando, entre cassações, renúncias e afastamentos, impediram que qualquer governador eleito pelo voto direto concluísse o mandato. O resultado é mais profundo do que um problema de governabilidade: é um trauma cívico. A vergonha tornou-se o sentimento político mais persistente entre os tocantinenses, uma mistura de descrença, cansaço e exposição pública diante de um Estado que não consegue manter-se de pé.
A nova pesquisa do Instituto Methodus, realizada em outubro de 2025, mostra a extensão desse desconforto moral. Quase 80% dos entrevistados afirmam que as sucessivas cassações “prejudicam muito o Tocantins”, e quase metade identifica como principal consequência a “falta de confiança nas instituições e políticos” (47,9%) e o fato de o Estado ter se tornado “mal visto no país” (47,2%). O problema, portanto, não é apenas administrativo, mas simbólico: o Tocantins sente vergonha de si mesmo.
A vergonha nasce da repetição. Desde 2002, o eleitor tocantinense vota sem a certeza de que sua escolha durará. Cada nova eleição parece o prelúdio de mais uma ruptura. Essa expectativa constante de fracasso destrói o orgulho cívico e corrói a crença no voto como instrumento de mudança.
O episódio recente do afastamento de Wanderlei Barbosa cristalizou esse mal-estar. Quase metade dos entrevistados (47,8%) considerou a decisão justa, enquanto 35,7% a julgaram injusta — uma divisão que reflete mais do que disputa política: revela a ausência de confiança em qualquer dos lados. O Tocantins parece preso a um roteiro repetido, em que a moralização judicial e o descrédito político caminham juntos. Cada afastamento traz o alívio momentâneo da punição e, ao mesmo tempo, a vergonha de recomeçar do zero.
Essa vergonha, porém, não é homogênea. Entre as mulheres (46%) e os eleitores de baixa renda, prevalece a percepção de que os afastamentos são políticos e injustos — uma sensibilidade ética marcada pela exaustão institucional. Já entre os mais velhos (48%) e os de renda mais alta (45%), cresce o apoio às decisões judiciais como forma de “colocar ordem”. A confiança política, portanto, deixou de ser partidária e tornou-se sociológica: divide gerações e classes sociais, mais do que ideologias.
O Tocantins vive o paradoxo da punição sem regeneração. O eleitor apoia a correção, mas não acredita na cura; deseja moralidade, mas dúvida da moralização. Por isso, o sentimento predominante é a vergonha, o incômodo de ser visto, mais uma vez, como um Estado que não consegue encerrar mandatos, que transforma a exceção em método e o erro em rotina.
Às vésperas de 2026, esse sentimento será decisivo. A vergonha pode calar o eleitor, ou despertar uma reação. Recuperar o orgulho cívico é a tarefa essencial do Tocantins. O Estado precisa reaprender a concluir o que começa, para que sua democracia volte a existir não apenas na forma, mas no conteúdo: estabilidade, confiança e dignidade pública.
José Carlos Sauer – Diretor do Instituto Methodus, especialista em comportamento político e graduado em Filosofia Política. Há mais de 25 anos atende disputas eleitorais, conduzindo pesquisas de opinião, interpretação de dados e análises, além do direcionamento estratégico para campanhas.
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