O ano de 2026 será um marco singular na política brasileira. As eleições do ano que vem carregam um significado que ultrapassa, e muito, a escolha do próximo presidente. Em seu interior, já se movimenta uma disputa estratégica que projeta seus efeitos diretamente sobre 2030. Sim, a eleição de 2030! Pode soar precipitado antecipar a análise para um ciclo eleitoral ainda distante, mas há um motivo central para isso: a renovação de dois terços do Senado Federal.
Em 2026, cada unidade da Federação elegerá dois senadores, e todos eles estarão exatamente na metade de seus mandatos quando o país voltar às urnas para decidir a sucessão presidencial de 2030, que não deverá contar com lideranças como Lula ou Bolsonaro.
É essa engrenagem institucional que coloca a disputa ao Senado no centro do tabuleiro político. Mais do que uma corrida paralela, ela se torna a verdadeira estrela da festa, capaz de redefinir forças, consolidar lideranças e moldar o ambiente político de médio prazo. Trata-se, portanto, de uma eleição que exige atenção redobrada, e leitura estratégica.
Considerando a importância dessa disputa e a crescente divulgação de pesquisas que pretendem medir o cenário para o Senado, é necessário chamar atenção para um tema pouco compreendido, inclusive por setores da mídia e por parte dos próprios analistas políticos. Falo dos resultados das pesquisas que buscam medir a disputa pelas duas vagas ao Senado em 2026, um tema que segue amplamente mal compreendido.
Por incrível que pareça, grande parte dos números que chegam para minha análise apresentam erros metodológicos significativos. Esses equívocos, quando não identificados, induzem eleitores, jornalistas e lideranças políticas a interpretações errôneas e, muitas vezes, completamente distorcidas sobre a real dinâmica da disputa. Em outras palavras: o que aparenta ser um retrato fiel do momento eleitoral pode, na verdade, estar produzindo uma leitura enganosa do que realmente está em jogo.
Para trazer luz a esse tema, é preciso recorrer à fonte mais segura: o Tribunal Superior Eleitoral. É investigando como o T.S.E. calcula oficialmente o resultado da eleição para o Senado, em que o eleitor pode escolher dois candidatos, que conseguimos compreender a lógica real da disputa.
A partir desse referencial, apresentarei a fórmula correta de apuração e, em seguida, explicarei os principais erros que têm sido replicados em pesquisas e análises divulgadas no Brasil.
Pesquisas eleitorais exigem rigor técnico e total aderência aos critérios utilizados pelas fontes oficiais. Sempre que você se deparar com resultados que se afastam do método que apresentarei a seguir, é importante ligar o sinal de alerta: há grande probabilidade de que esses dados não mereçam sua confiança.
Vou utilizar como exemplo a disputa ao Senado na eleição de 2018 no Estado de Goiás, último pleito em que cada unidade da Federação elegeu dois senadores simultaneamente. Lembre-se: o mandato de um senador é de oito anos e, por isso, a renovação de dois terços da Casa ocorreu em 2018 e, transcorrido o ciclo completo, volta a ocorrer agora em 2026.
Na eleição de 2018, 2.968.733 eleitores compareceram às urnas no estado de Goiás (os dados oficiais podem ser acessados no portal do T.S.E.). Esse número é fundamental porque representa a base real de eleitores que participou efetivamente da escolha e, portanto, deve ser utilizado como referência para qualquer cálculo ou análise do resultado.
A partir dessa informação, avançamos para a segunda parte: o total de votos destinados aos candidatos ao Senado. Como cada eleitor pode votar em dois senadores, o volume de votos sempre será superior ao total de eleitores que compareceram.
Em Goiás, o número total de votos computados para o Senado em 2018 foi de 5.517.329, praticamente o dobro da quantidade de eleitores presentes. Isso ocorre porque, para calcular o resultado da disputa ao Senado, o T.S.E. soma todos os votos recebidos por cada candidato, independentemente de terem sido registrados como primeiro voto ou segundo voto.
De maneira mais simples, imagine a seguinte dinâmica: durante a votação para o Senado, cada eleitor pode escolher dois candidatos, mas isso não significa que esses votos serão registrados sempre na mesma ordem. A distribuição entre primeiro e segundo voto varia conforme a intenção de cada eleitor.
Eleitor | 1º Voto | 2º Voto |
Eleitor 1 | Candidato A | Candidato B |
Eleitor 2 | Candidato B | Candidato A |
Eleitor 3 | Candidato B | Candidato C |
Eleitor 4 | Candidato C | Candidato B |
Eleitor 5 | Candidato B | Candidato C |
Candidato | Total de votos | % | Resultado |
B | 5 votos | 50% | 1º colocado – Eleito |
C | 3 votos | 30% | 2º colocado – Eleito |
A | 2 votos | 20% | 3º colocado – Não eleito |
Total | 10 votos | 100% |
Esse exemplo deixa evidente que a ordem dos votos não altera a lógica de apuração. O que determina o resultado final é a soma total dos votos recebidos por cada candidato, independentemente de terem sido escolhidos como primeira ou segunda opção.
É também por esse motivo que o total de votos para o Senado é sempre superior ao registrado em cargos de voto único, como governador ou presidente. Enquanto, para esses cargos, cada eleitor contribui com um único voto, na eleição para o Senado em que são eleitos dois Senadores, cada eleitor pode gerar dois registros na urna eletrônica, o que naturalmente eleva o volume total de votos contados.
Agora que você está de posse de uma informação que raramente é explicada com clareza, e que dificilmente aparecerá em manuais ou relatórios de pesquisa, cabe um alerta: passe a analisar com muito mais rigor os resultados de pesquisas eleitorais.
Os erros mais comuns que costumo encontrar, são dois, e ambos comprometem gravemente a integridade da pesquisa e a leitura do cenário ao Senado.
O primeiro é a divulgação de resultados que somam mais de 100%, inflando artificialmente o percentual dos candidatos e transmitindo ao eleitor a falsa impressão de que determinados nomes possuem vantagem muito superior a real. Trata-se de um erro básico, mas recorrente: quando a soma ultrapassa 100%, significa que a metodologia aplicada não segue o padrão oficial do T.S.E.
O segundo erro, ainda mais grave, é a apresentação de duas simulações paralelas, como se fosse possível existir um “vencedor da primeira vaga” e outro “vencedor da segunda vaga”. Esse procedimento ignora completamente a regra eleitoral. O T.S.E. não separa votos por simulação: novamente, ele soma todos os votos recebidos por cada candidato, independentemente de terem sido dados como primeira ou segunda opção, e ordena o resultado a partir desse total.
A eleição para o Senado de 2026 é uma das disputas mais complexas do sistema eleitoral brasileiro e, por isso, exige rigor técnico absoluto. Quando pesquisas são mal elaboradas, não se trata apenas de um simples erro, mas sim, de um erro estratégico que distorce diagnósticos, confunde eleitores e compromete decisões políticas.
Neste cenário, quando duas vagas estarão em disputa e o resultado definirá parte do ambiente político até 2030, interpretar dados sem domínio técnico das regras do T.S.E. deixa de ser apenas um risco: torna-se um erro estratégico.
Nesse contexto, análises sobre disputa eleitoral não podem ser tratadas como opinião. Precisam estar nas mãos de especialistas, e a interpretação, aqui, deve ser feita por quem realmente sabe o que está fazendo.
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