A trajetória ideológica das candidaturas ao Senado na região Norte entre 2014 e 2022 revela uma transição do pluralismo político para a polarização. O ciclo iniciado com disputas equilibradas entre centro, esquerda e direita culmina, oito anos depois, na supremacia de um campo conservador amplamente dominante. O encolhimento das forças moderadas e a reorganização das esquerdas completam esse processo.
Em 2014, a esquerda liderava o total de votos, enquanto o centro e a centro-direita dividiam espaço com a direita tradicional. O cenário era marcado por maior diversidade ideológica e articulação institucional. As legendas centristas ainda desempenhavam papel estruturante no campo político-eleitoral da região, com fôlego competitivo em praticamente todos os estados.
O ponto de inflexão veio em 2018. A centro-esquerda e o centro atingiram seus maiores volumes de votos, aproveitando a fragmentação do sistema partidário. Mas esse auge ocultava um desgaste latente: essas forças cresceram sem aprofundar identidade ideológica, tornando-se vulneráveis à reconfiguração nacional. A direita avançou, ainda que sem consolidar hegemonia imediata.
Em 2022, o realinhamento se completou. A direita liderou com mais de 4 milhões de votos, superando com folga todos os demais campos. O centro político colapsou, a centro-esquerda praticamente desapareceu e a esquerda encolheu. O eleitorado nortista passou a exigir clareza ideológica, premiando discursos mais firmes, especialmente no campo conservador.
A região Norte tornou-se mais polarizada, com menor espaço para candidaturas ambíguas ou de perfil conciliador. A extrema-direita teve papel marginal, enquanto a esquerda manteve presença localizada, especialmente no Amapá e Pará. A disputa futura exigirá mais do que nomes viáveis: exigirá coerência doutrinária e sensibilidade aos rearranjos simbólicos do eleitorado.
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, pesquisador em comportamento político, consultor estratégico, analista de dados e diretor do Instituto Methodus. Com mais de 25 anos de experiência no cenário eleitoral brasileiro, destaca-se na análise de tendências e no uso inteligente de dados para estratégias competitivas eficazes.