Ao realizarmos o 1º Ranking dos Prefeitos da região metropolitana de Porto Alegre, oferecemos ao eleitor a oportunidade de avaliar o Governador Eduardo Leite-PSDB e o Presidente Lula – PT. Nesta nova publicação, apresentamos as notas obtidas pelo governador em cada uma das cidades que foram contempladas na primeira edição do ranking.
Assim como identificamos na avaliação dos prefeitos, a nota média obtida pelo governador está abaixo de 6 pontos, chegando a 5,5 e revelando que os eleitores da região metropolitana de Porto Alegre o avaliam como um governador mediano.
Para compreender o significado deste resultado retornaremos à eleição estadual de 2018, quando Eduardo Leite se consagrou governador do Rio Grande do Sul pela primeira vez. Naquele ano três grandes forças políticas disputavam a eleição: o Governador José Ivo Sartori do MDB que buscava a reeleição, o ex-prefeito da cidade de Pelotas Eduardo Leite-PSDB e o ex-ministro Miguel Rosseto do PT.
No primeiro turno daquela eleição, o ex-prefeito do PSDB conquistou 26% dos votos nominais, seguido de perto pelo Governador do MDB que chegou a 22%. Somados os percentuais, ambos conquistaram 48% dos votos nominais ou quatro milhões de votos (4.000.938). Ainda, os candidatos, Leite e Sartori, reuniam no entorno de suas candidaturas as principais forças políticas do Rio Grande do Sul, chegando ao total de 16 partidos em suas bases de apoio.
Na contramão da disputa a governador, observávamos aqui no estado, o crescimento da candidatura a presidente de Jair Bolsonaro-PSL que, com somente dois partidos em sua coligação, conquistou 40% dos votos nominais ou três milhões de votos (3.128.317), contra pífios 17% de Haddad-PT naquela eleição.
Animados com o crescimento de uma nova força política no estado, ambos os candidatos a governador apoiam Bolsonaro, Leite com maior discrição e Sartori abrindo o voto declaradamente, não há quem não se lembre do SARTONARO! A época, foram muitas as declarações que associavam o PSDB a esquerda, na tentativa de conquistar o eleitor de Bolsonaro atribuindo uma rejeição cruzada a Leite. Ao final daquele segundo turno o candidato do PSDB é eleito Governador, conquistando 37% dos votos nominais ante os 32% conquistados por Sartori.
Naquela eleição, o apoio a Bolsonaro-PSL custou a reeleição do MDB ao governo do estado, pois, ao subestimar a rejeição dos eleitores da esquerda a Bolsonaro, Sartori estabelece as condições para a vitória do candidato do PSDB no segundo turno.
Ao relembrar a eleição de 2018, compreendemos que os candidatos e consequentemente o próprio Governador eleito, detinham o apoio autêntico de aproximadamente 30% dos eleitores do estado, percentual correspondente aos votos nominais conquistados no primeiro turno daquela eleição.
A eleição a governador de 2022 chegou com uma novidade, agora PSDB e MDB estavam coligados na disputa a reeleição de Eduardo Leite. O mínimo que deveríamos esperar é que unidos, os partidos conquistassem a maioria dos eleitores, assim como identificamos em 2018 quando a soma da votação de Sartori e Leite chegou a 48% dos votos nominais do estado.
Mas não foi exatamente isso que aconteceu. Encerrado o primeiro turno da eleição de 2022, a coligação PSDB/MDB chegou a somente 20% dos votos, empatando com Edegar Pretto-PT em segundo lugar, também com 20% dos votos nominais. Para a surpresa de alguns, mas não nossa, Onyx-PL chega em primeiro lugar no primeiro turno conquistando 28% dos votos nominais.
Na disputa de segundo turno entre Leite e Onyx, observamos a repetição do mesmo equívoco estratégico de 2018. Onyx-PL, ao desprezar a movimentação dos eleitores que se opuseram à sua candidatura no primeiro turno da eleição e que votaram nos candidatos do PSDB/MDB e PT, promove novamente a união dos partidos e dos eleitores da esquerda e centro esquerda no entorno da candidatura do PSDB, reelegendo Eduardo Leite.
Ao afastarmos os movimentos políticos de apoio, que ocorrem nas disputas de segundo turno, observaremos que o eleitor que não tem a sua escolha de primeiro turno contemplada com a vitória, acaba por fazer uma escolha por exclusão, destinando seu voto ao candidato que oferece menor dano aos seus interesses ou ideologias. Novamente estamos diante de uma eleição em que será feita a escolha daquele que é menos ruim.
Foi assim em 2018, quando Eduardo Leite-PSDB venceu Sartori-MDB embalado na rejeição ao apoio do emedebista a Bolsonaro-PSL. Da mesma maneira, em 2022, observamos o apoio ao candidato do PSDB por partidos e eleitores que jamais se uniriam na busca por sua reeleição, a motivação foi novamente a rejeição ao bolsonarismo, que havia se consagrado vitorioso na disputa do primeiro turno, tornando-se uma ameaça no segundo turno daquela eleição.
Portando, o voto autêntico que é observável na disputa de primeiro turno, é o primeiro indicador de que o atual governador dispõe da simpatia de aproximadamente 20% dos eleitores do estado.
O contexto anterior àquela disputa, nos oferece mais algumas justificativas para compreender a nota média de 5,5 do atual governador.
Em março de 2022, Leite renúncia ao cargo de governador para lançar sua candidatura à presidência. Com parte de apoiadores do seu partido, disputa as prévias, mas é derrotado por João Dória, que é então anunciado como pré-candidato à presidência do PSDB. Enquanto essas movimentações ocorrem, com Leite afastado do cargo de governador, seu substituto, Ranolfo Vieira, não conquista a parcela dos eleitores que considera a renúncia de Leite um traição. Sim! Após a renúncia de Eduardo Leite, e ainda sob o impacto das perdas causadas pela pandemia, o sentimento dos eleitores gaúchos era de abandono. Para eles, a renúncia de Eduardo estava ligada exclusivamente a um desejo ilegítimo de poder, decorrente da derrota nas prévias do seu partido para disputar a vaga de presidente.
O retorno tardio de Eduardo Leite a disputa estadual, marcada pelo oximoro de que seria “um candidato a governador, e não um governador candidato”, deixa o seu eleitor com a nítida impressão de que estava sendo usado pelo ex-governador como um plano B para sua carreira política. Os gaúchos mantêm em sua tradição a confiança na palavra. Naquela e em outras oportunidades, o candidato do PSDB rompeu com estes laços de garantia, selando suas chances de conquista do voto no primeiro turno da eleição.
Foram somente 2.441 votos que garantiram o ingresso do candidato do PSDB/MDB no segundo turno, exigindo novamente o apoio da esquerda, que não pretendia socorrer o candidato do PSDB, mas principalmente defender-se da ameaça que o candidato de Bolsonaro representava a estes grupos políticos. O histórico destas narrativas, preenchem as justificativas para a compreensão da avaliação regular que o atual governador do Rio Grande do Sul recebeu dos eleitores da região metropolitana.
Da mesma maneira precisamos refletir sobre as notas das avaliações dos prefeitos, que depois de um período pandêmico, ainda não entenderam o que é essencial para qualidade de vida de seus cidadãos e conterrâneos. Existem mágoas, divisões internas e ódio entre os eleitores, que ultrapassam o asfalto, a limpeza e a iluminação que os prefeitos oferecem. Vivemos o momento em que a maioria dos cidadãos das cidades brasileiras estão inseguros com o futuro, onde não há a garantia do emprego e da manutenção da alimentação. Num mundo em que o futuro é incerto não cabem soluções simplistas, pois elas serão sempre vistas como má fé por parte do eleitor.
Até aqui encontramos uma certeza o eleitor não aceitará ser o plano B de políticos aventureiros e promoverá tantas mudanças quantas forem necessárias, para encontrar candidatos que sejam confiáveis e conhecedores da sua história, nas eleições de 2024.
José Carlos Sauer é Filósofo, Pesquisador em Comportamento Político e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou políticos e governos nos estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas e Paraná.