Devo fazer uma ressalva: eu não utilizo o Twitter. Essa decisão não possui qualquer motivação política, social ou filosófica; simplesmente não o considero útil para atender às minhas necessidades diárias. No entanto, acompanho os usuários desta plataforma, principalmente políticos, através das notícias que leio no meu cotidiano. Anteriormente, os usuários do Twitter podiam usar no máximo 140 caracteres, que depois foram expandidos para 280. No entanto, após ser adquirida por Elon Musk, empreendedor e CEO de empresas inovadoras como SpaceX e Tesla, a plataforma passou por mudanças e agora permite o uso de até 10000 caracteres. Até o momento, parece que com a entrada de Elon Musk, a plataforma passou por várias atualizações em relação aos caracteres e também uma distinção entre usuários regulares e aqueles com o chamado “Twitter Blue”.
Mas o que exatamente significa ser um usuário “Twitter Blue”?
O Twitter Blue é um plano de assinatura premium oferecido pelo Twitter, que proporciona aos assinantes benefícios adicionais em comparação aos usuários gratuitos da plataforma. Por exemplo, o recurso “Desfazer Tweet” permite que os usuários desfaçam a publicação de um tweet por alguns segundos após enviá-lo, evitando erros ou postagens indesejadas. Além disso, os assinantes têm a capacidade de criar pastas de favoritos, organizando seus tweets preferidos em pastas personalizadas para facilitar o acesso e referência. Outra vantagem é a “Leitura mais confortável”, que oferece recursos para tornar a experiência de leitura no aplicativo mais agradável, incluindo temas personalizados e opções de ajuste de fonte. Esses recursos adicionais deveriam tornar a experiência dos usuários “Twitter Blue” mais conveniente e personalizada, agregando valor à sua experiência no Twitter.
As plataformas Twitter e WhatsApp representam duas das principais ferramentas de comunicação online atualmente utilizadas em todo o mundo. Ambas tiveram um impacto significativo na forma como as pessoas se comunicam, especialmente no que diz respeito ao conceito linguístico de “mensagem”.
Antes do surgimento dessas plataformas, o termo “mensagem” estava mais associado à forma tradicional de comunicação por meio de cartas, e-mails ou mensagens de texto curtas em telefones celulares. No entanto, o Twitter e o WhatsApp trouxeram uma nova abordagem para a troca de informações e ideias.
No caso do WhatsApp, que é uma plataforma de mensagens instantâneas, os usuários costumam se referir ao ato de escrever uma mensagem como “Whats”. Essa redução da palavra “WhatsApp” para “Whats” demonstra a informalidade e a simplicidade da comunicação nessa plataforma, refletindo a rapidez e a natureza direta das conversas.
Por sua vez, o Twitter revolucionou ainda mais a forma como as pessoas se expressam online. Os usuários desta rede social, ao escreverem uma postagem, chamada de “tweet”, criaram uma nova linguagem ao adotar o termo “Twittar”. O verbo “twittar” entrou no léxico cotidiano como uma forma de descrever a ação de enviar um tweet, caracterizando a atividade específica realizada no Twitter.
Essa popularização do verbo “twittar” ilustra como o Twitter influenciou a cultura digital e moldou a maneira como as pessoas compartilham pensamentos, notícias, opiniões e até mesmo momentos do dia a dia com uma audiência global em tempo real.
Além disso, o limite de caracteres imposto pelo Twitter – inicialmente 140 caracteres e depois expandido para 280 caracteres – também influenciou a forma como as pessoas se expressam e se comunicam na plataforma. A necessidade de sintetizar informações em uma quantidade limitada de caracteres levou à criação de uma linguagem concisa, com abreviações e recursos para transmitir ideias de forma mais eficiente.
A incorporação do verbo “twittar” em nosso vocabulário cotidiano é um exemplo marcante de como essas plataformas moldaram a cultura online e transformaram a maneira como nos comunicamos e interagimos na era digital.
Em um domingo aparentemente comum, em 23 de julho de 2023, Elon Musk surpreendeu a todos ao decidir alterar completamente o nome do Twitter, que agora passou a se chamar “X”. Além disso, o icônico logo do pássaro azul foi substituído por um aplicativo de cor preta com uma letra branca “X” no centro, e o novo nome da plataforma é “X Corp”. Uma curiosidade intrigante é que, ao buscar pelo aplicativo digitando a palavra “Twitter”, o resultado apresentou a nova denominação “X Corp”.
Neste sentido pensei em como em um domingo comum de julho, aconteceu uma revolução linguística para todos nós a nivel global. O que entendo por revolução linguística? Uma revolução linguística é uma mudança importante e rápida na forma como as pessoas usam ou entendem uma língua. Pode acontecer devido a: tecnologias novas, mudanças sociais, contato com outras línguas ou influência da geração mais jovem. Essas transformações podem criar novas palavras, expressões e até mesmo alterar a gramática e a pronúncia. As línguas estão sempre mudando e se adaptando à sociedade em constante evolução.
Dito isto, surgiram algumas perguntas em minha mente: o que acontecerá agora com a palavra “Twitter”? Os usuários ainda poderão usá-la para “twittar”? Eles poderão escrever um “twitt”? Ou, após aquele domingo, devem começar a utilizar a palavra “X” (Twitter)? Será possível usar “X” para “Xar” (Twittar)? Podem escrever um “X” (Twitt)? As dúvidas sobre como se referir à plataforma são compreensíveis após as mudanças promovidas por Elon Musk. Mas a questão que me deixou preocupado foi a precariedade dessas plataformas digitais e o impacto linguístico que podem ter no mundo inteiro. Essa precariedade se deve ao fato de que uma única pessoa pode tomar a decisão de mudar completamente o nome dessas plataformas. Um interlocutor poderia me dizer: “No fim das contas, ele é o dono e pode fazer o que quiser”. Sim, não tenho dúvida sobre isso; ele pode fazer o que quiser com a sua plataforma. Mas aqui a questão é outra e tem uma natureza linguística. Agora, todos devem esquecer a palavra “Twitter”? Não podem mais “twittar”? Temos que esquecer o pássaro azul, que era o símbolo dessa plataforma?
E, sobretudo, e se ele quisesse fechar o “X-Twitter”? No fim das contas, a plataforma é DELE. Isso é o que eu me refiro quando falo em precariedade; qualquer tipo de aplicativo online não pertence aos usuários, mas aos donos. Acredito que Elon Musk deixou claro para o mundo inteiro que, apesar de nós, usuários, interagirmos com esses aplicativos todos os dias e de eles serem indispensáveis para o nosso cotidiano, eles podem ser revolucionados ou até mesmo fechados para sempre.
Sob uma perspectiva política, podemos perceber que não há democracia em todos esses aplicativos; tudo está nas mãos dos donos e os usuários devem aceitar todas as decisões sem poder fazer nada. Vamos imaginar, por absurdo, que o Brasil fosse um aplicativo, o que aconteceria? O povo não poderia mais votar e deveria simplesmente se adequar aos comandos dos donos. Por isso, acho que a ação de Elon Musk me deu a chance de entender que, embora a nossa democracia possa ser ameaçada e não seja perfeita, é sempre melhor do que qualquer tipo de aplicativo que nos dê a sensação de liberdade, mas que no fundo pode ser retirada de nós a qualquer momento.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.
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