No artigo Do Planalto ao Piratini e as lembranças que moldam 2026, exploramos a lembrança espontânea do eleitor, o que nos ajudou a compreender não só a disputa presidencial, mas também como ela transborda para o Piratini. Nesta nova análise, examinamos um elemento complementar que nos permitirá entender a disputa a partir das avaliações de governo, divulgadas em nossa última pesquisa.
Nosso ponto de partida é a busca pela compreensão do voto no Rio Grande do Sul a partir da percepção do eleitor sobre o Governo Federal. Nesse caso, ela funciona como uma bússola afetiva: onde há satisfação, o voto se alinha ao campo da esquerda; onde há rejeição, abre-se espaço para a direita; e, no meio desse eixo, um amplo território neutro, povoado por indecisão e ambivalência.
Entre os satisfeitos com o governo Lula, observa-se uma estrutura de preferência já consolidada: o eleitor tende a enxergar continuidade entre o que aprova em Brasília e o que projeta para o Piratini. É um voto menos volátil, mais identificado com políticas sociais e com o desejo de um Estado presente.
Já entre os insatisfeitos, a relação se inverte: o desconforto com o Governo Federal se traduz em predisposição à mudança, e os eleitores críticos ao governo buscam por representantes que estejam dentro do espectro opositor.
No centro, entre os que não expressam nem aprovação nem rejeição, o campo se abre. É o eleitor que observa, compara e espera, aquele que ainda não se sente convocado por nenhum dos polos em disputa. Essa leitura mostra que o voto no Rio Grande do Sul, hoje, não é apenas uma escolha por nomes, mas uma tradução emocional da relação do eleitor com o Governo Federal, um espelho do humor com Brasília.
Ao deslocarmos a lente para o Governo Estadual, comandado por Eduardo Leite, a relação entre avaliação e intenção de voto se torna mais difusa. Mesmo entre os satisfeitos, não há um alinhamento direto com candidatos percebidos como continuidade, o que sugere que a aprovação do governo estadual não gera um voto automático em favor do centro. A boa imagem de Leite parece estar mais associada a uma avaliação de desempenho administrativo do que a uma identidade política propriamente dita.
Entre os insatisfeitos com o governo do Estado, há desejo de mudança, mas ele se dispersa. Parte desse eleitorado se aproxima de Zucco, enquanto outra parcela ainda se divide entre Juliana e Edegar, mantendo a disputa aberta. Em outras palavras, a insatisfação com o Piratini não encontra um único herdeiro: o sentimento oposicionista é plural e atravessado por percepções distintas sobre quem representa, de fato, a renovação.
Essa autonomia do eleitor gaúcho em relação ao governo estadual reforça um traço já observado em outros pleitos: o voto aqui tende a ser mais analítico e menos automático. A fidelidade está associada a percepção de eficiência e coerência, não necessariamente à mera continuidade de poder.
O cruzamento com o perfil sociodemográfico revela um grupo central e decisivo: o eleitor neutro, residente na região metropolitana e pertencente à classe média popular. É um público que vive o cotidiano de forma prática, observa os governos a partir do que entregam e raramente decide cedo. Para esse eleitor, a política é uma relação de custo-benefício, não de identidade.
Entre eles, as mulheres com renda média e alta exposição à vida urbana, são as que mais ponderam. Elas não rejeitam a política, mas a testam. Querem estabilidade e previsibilidade, não promessas.
É nesse campo que a disputa tende a se desenvolver, e é também ali que a experiência, a capacidade de gestão e a viabilidade das promessas serão testadas. Esse eleitor procura resultados tangíveis e práticos para sua vida.
A análise comportamental dos dados nos mostra que a avaliação de governo atua como um marco cognitivo, um ponto de partida emocional a partir do qual o eleitor organiza suas preferências. Mas esse marco não é estático: o mesmo eleitor que hoje aprova um governo pode, diante de novas percepções, deslocar seu voto sem culpa. O que orienta sua decisão é menos a lealdade e mais a coerência percebida entre discurso e entrega.
A política, no imaginário gaúcho, está cada vez mais conectada ao senso de desempenho. O eleitor avalia quem governa e quem promete governar com o mesmo olhar: o da eficiência, da estabilidade e da capacidade de enfrentar crises.
A satisfação com o Governo Federal favorece Edegar; a insatisfação beneficia Zucco; e o meio, vasto e silencioso, permanece em observação, dividido entre a opção por Juliana e a possibilidade de alternativas novas. O governo estadual, por sua vez, não transfere capital político, mas compõe o pano de fundo sobre o qual se mede competência e sensatez. O resultado é um cenário de disputa madura, em que o eleitor não segue líderes, mas sinais de entrega.
E talvez esteja aí a principal mensagem desta análise: no Rio Grande do Sul, a política se decide menos por paixão e mais por credibilidade.
José Carlos Sauer – Diretor do Instituto Methodus, especialista em comportamento político e graduado em Filosofia Política. Há mais de 25 anos atende disputas eleitorais, conduzindo pesquisas de opinião, interpretação de dados e análises, além do direcionamento estratégico para campanhas.
Leia Também:
Do Planalto ao Piratini e as lembranças que moldam 2026
A sucessão de Leite e o tabuleiro da disputa ao Piratini
Pesquisa eleitoral no RS mostra Lula à frente e empate técnico na disputa ao governo estadual
Gabriel Souza e o risco de ser apenas continuidade burocrática
Quando o Apadrinhamento Decide ou Derruba uma Eleição
Se você busca uma consultoria política para sua disputa eleitoral, fale conosco por WhatsApp ou e-mail. Oferecemos apoio integral: da definição da estratégia ao acompanhamento de toda a campanha, assegurando leitura precisa do cenário, ações eficazes e resultados vitoriosos. Também realizamos pesquisas eleitorais exclusivas, com registro oficial e análises aprofundadas, para orientar cada passo da sua tomada de decisão.
Quer fazer parte da nossa REDE METHODUS e receber análises exclusivas direto no seu WhatsApp, Clique aqui e envie RECEBER, incluiremos você em nossa lista.