As eleições para deputado federal nos estados da região Sudeste entre 2018 e 2022 evidenciam um realinhamento ideológico profundo, marcado pela consolidação dos polos e pelo colapso das forças moderadas. Com base na soma dos votos nominais por partido e ideologia, observa-se que o eleitorado sul-sudestino abandonou candidaturas de centro e centro-direita, optando de forma crescente por projetos mais à direita.
Em 2022, o campo conservador atingiu uma hegemonia numérica inédita: partidos de direita e extrema-direita somaram juntos mais de 21 milhões de votos nominais, o equivalente à maioria absoluta dos votos válidos da região. Essa concentração expressa não apenas uma preferência ideológica, mas também uma reorganização institucional. A direita tradicional (PP, UNIÃO, Republicanos, etc.) manteve crescimento constante, enquanto a extrema-direita, agora abrigada majoritariamente no PL, se consolidou como principal força eleitoral, capitalizando o legado do bolsonarismo.
Ao mesmo tempo, a esquerda expandiu sua base, passando de 6,3 milhões em 2018 para 8,5 milhões de votos em 2022. Essa progressão reafirma que, mesmo diante de um cenário nacional adverso, os partidos de esquerda mantêm capilaridade nos grandes centros urbanos, periferias metropolitanas e zonas historicamente vinculadas à luta sindical, à educação pública e às políticas redistributivas. O bloco progressista resiste e se estrutura como o principal polo opositor, oferecendo uma alternativa programática coesa diante da crescente concentração conservadora.
O fenômeno mais expressivo, no entanto, está no esvaziamento do centro e da centro-direita. Juntos, esses segmentos perderam mais de 4 milhões de votos no intervalo de apenas quatro anos. Partidos como PSDB, DEM (agora parte do União Brasil), PPS e PODE sofreram uma debandada eleitoral, refletindo a perda de relevância de discursos conciliatórios em um ambiente cada vez mais binário. Já a centro-esquerda, embora tenha recuado, manteve alguma densidade, sobretudo via PSB e PDT, embora sem liderança regional clara.
A polarização no Sudeste, portanto, não é apenas eleitoral, mas estrutural. O eleitor está escolhendo lados, não necessariamente por radicalização ideológica, mas pela rejeição a posições ambíguas ou discursos considerados “indecisos”. O sistema partidário responde a isso com reorganizações internas, migrações e fusões que tendem a reforçar os polos em detrimento dos matizes intermediários. A política regional, assim, deixa de ser um espaço de composição e se torna um terreno de afirmação e antagonismo.
Para 2026, o cenário é de continuidade desse tensionamento. A direita amplia sua base e governa parte importante da região; a esquerda avança, mas encontra barreiras institucionais e midiáticas; o centro, por sua vez, luta para reaparecer. O Sudeste brasileiro tornou-se o palco central da disputa ideológica nacional, não por sua radicalização retórica, mas por representar, em votos, o núcleo duro da nova política polarizada no Brasil.
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, pesquisador em comportamento político, consultor estratégico, analista de dados e diretor do Instituto Methodus. Com mais de 25 anos de experiência no cenário eleitoral brasileiro, destaca-se na análise de tendências e no uso inteligente de dados para estratégias competitivas eficazes.
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