Não há regras fixas sobre processos eleitorais: cada país, estado, província ou municipalidade organiza seus pleitos da maneira que convém. E mesmo sendo um curioso sobre o tema, conheço menos do que gostaria, então esclareço que esse não ė um texto sobre legislações eleitorais. É sobre como as eleições são sobre pessoas e suas expectativas, em especial quando falamos de eleições municipais.
Em 2019, me mudei para Toronto, a maior cidade canadense. Quando cheguei, me vi em meio a uma campanha política, mais especificamente, as eleições federais. O atual Primeiro-Ministro buscava a reeleição em um sistema distrital onde quem elege mais membros do parlamento — ou, como conhecemos, deputados federais — leva a chefia do governo. E, naquele momento, três pontos me deixaram intrigados: a ausência de um horário eleitoral, como não havia poluição visual pela cidade e, não menos importante, que as pessoas não eram obrigadas a votar.
E isso muda nas eleições municipais? Não. Continuamos sem horário eleitoral, poucas e minúsculas sinalizações nos gramados das casas, e sem voto obrigatório. O que há em comum entre campanhas tão tímidas e as volumosas campanhas municipais brasileiras — ao menos nas maiores — é o quê nos motiva a votar. O eleitor não “perder” seu voto com alguém que não resolverá o problema que ele consegue ver, sentir e, infelizmente, sofrer. O candidato dos sonhos é aquele capaz de resolver os problemas cotidianos, de forma rápida e sem custos adicionais. Em resumo, votamos em prefeitos, mas esperamos um desempenho similar a síndicos de condomínios.
O prefeito possivelmente é o cargo político que mais precisa mostrar serviço aos olhos de seus eleitores, independentemente do município que governe. O prefeito de Palmas, no Tocantins, possivelmente será cobrado de maneira similar ao prefeito de Toronto. E caso você duvide, deixa eu te contar sobre o que aconteceu nos últimos meses por aqui. John Tory foi reeleito prefeito de Toronto em 2022, apesar de críticas por ser muito liberal para ser um conservador e muito conservador para ser um liberal, o famoso ‘isentão’. Em 2023, renunciou em meio a muitas críticas sobre o caos na mobilidade urbana, segurança pública e mesmo limpeza pública. O que fez ele decidir pela renúncia, no fim das contas, teve pouco a ver com o que acontecia do lado de fora de seu gabinete, mas sim entre quatro paredes: quando se tornou público que ele tinha um caso com uma assessora.
A eleição está com data marcada, 26/6, e 102 candidaturas foram registradas. O número de candidatos assusta, mas a similaridade entre os principais nomes assusta ainda mais. Há, efetivamente, oito nomes com chances de vitória, que estão sendo classificados em dois grandes grupos: aqueles que fomentarão um novo modelo de gestão e outros que continuarão a política adotada pelo prefeito recém-renunciado. Um brasileiro com um olhar mais atento — ou viciado, talvez — diria que a eleição está polarizada. Eu diria que está mais para uma discussão de ponto de pauta de reunião de condomínio: que investimentos, possíveis dentro do orçamento, trarão benefícios claros e imediatos para mais pessoas.
Aqui, por exemplo, a pauta dos candidatos com chances de vitória passa por repensar o valor dos transportes público, e requalificar os serviços oferecidos, até à manutenção de áreas públicas ou venda para empreendimentos imobiliários. O aumento ou readequação das forças de segurança também estão em pauta, pois por aqui o policiamento é municipal, e inclusive o ex-chefe da polícia é um dos candidatos. Em todos os pontos, alinhamento político-partidário tem influência e são colocados à mesa pelos mais envolvidos. Porém, a verdade é que o cidadão-comum quer saber quem vai garantir que ele saia de casa 5 minutinhos mais tarde, use um metrô limpo e com uma tarifa justa, e volte para casa sem tomar uma facada de um viciado em drogas nas ruas. Ele quer que a gestão municipal, antes de tudo, não crie mais problemas para sua vida.
É assim aqui em Toronto, São Paulo ou Dom Pedrito. Onde há pessoas, com as mais variadas necessidades cotidianas, haverá eleições municipais que colocarão vizinhos, colegas ou familiares em lados opostos. E aí não estamos falando de mamadeira de ******, ditadura na Venezuela, invasão da Ucrânia ou estatuto de desarmamento. Os problemas cotidianos são claros e, mesmo sendo expostos em alto e bom som nas redes sociais, são observados com maior clareza nas ruas, onde acontecem. Caso você queira se candidatar em 2024, isso precisa ser prioridade de sua campanha: conversar com o eleitor sobre os problemas do município e como resolvê-los nos primeiros anos da gestão. Fale e repita. Faça o eleitor lembrar de suas propostas quando o ônibus atrasar, quando a coleta de lixo não for feita no dia agendado ou quando seu filho voltar cedo para casa por não ter professor para dar aula. Promova uma campanha de prefeito eleito; não trabalhe como um cabo eleitoral de futuras candidaturas a governador ou presidente.
Paulo Petitinga é estrategista político, mestre em Comunicação e Opinião Pública pela Universidade Católica de Brasília, e pesquisador-convidado do Labô – Laboratório de Política, Comportamento e Mídia, da PUC-SP.
(437) 345-0199
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