Ao longo dos últimos meses, percebi com clareza a dissonância existente entre as realidades que investigo e aquelas comunicadas por governos e políticos em suas narrativas. Essa discrepância, gerou um desconforto inevitável, evidenciando a distância entre o que observo na prática e o que é apresentado publicamente.
“Ao silenciar o debate, silenciamos a crítica” me contou um entrevistado sobre sua visão política do momento que vivemos – Segundo ele, o debate no grupo familiar, com amigos e conhecidos se tornou um campo minado, abrindo espaço para narrativas que tentam nos convencer de que tudo está melhor do realmente está.
Hoje em dia, parece que nos habituamos a manifestações como essas. Acabamos, muitas vezes, silenciando grande parte das nossas frustrações e seguindo em frente sem buscar o contraditório ou nos esforçar para compreender melhor a realidade.
Se você também se sente assim, provavelmente faz parte do grupo que compõe a Classe Média Gaúcha, um grupo social heterogêneo situado entre os extremos de renda, que possui capacidade econômica suficiente para sustentar determinado padrão de consumo e acesso a bens e serviços, mas que é particularmente sensível às oscilações econômicas e às consequências das políticas públicas, especialmente nas áreas de segurança, desenvolvimento, emprego e educação.
Ao divulgar os resultados desta pesquisa, procuro dar voz a uma população que percebo sufocada, sem representação e, muitas vezes, ocupada demais para expressar suas indignações e debater o futuro do nosso estado.
A partir de agora, compartilho com você os resultados que compõem a pesquisa “Vozes da Classe Média”. Boa Leitura!
A Percepção sobre o momento atual do Estado:

Hoje, 49,7% dos entrevistados consideram que o Rio Grande do Sul está regredindo, o que sinaliza um alto grau de insatisfação e preocupação com a situação atual do estado.
Outros 38,3% percebem o estado como parado, indicando uma sensação de estagnação entre parte significativa da população.
Apenas 11,2% acreditam que o estado está avançando, refletindo uma minoria que vê progressos claros.
A taxa de indecisos ou “não sabem” é residual (0,8%), mostrando clareza nas percepções negativas ou neutras da população.
Esses números destacam um cenário crítico, com quase metade dos eleitores de classe média avaliando negativamente a atual situação do estado.
A expectativa sobre o próximo governo:

Uma ampla maioria (72,8%) defende a necessidade de mudar totalmente a forma de governo, revelando um desejo de renovação profunda com as práticas atuais.
Outros 23% preferem algumas mudanças, o que indica que há também uma parcela significativa que deseja ajustes, mas não necessariamente uma mudança total.
Apenas 3,8% desejam a continuidade, confirmando uma rejeição clara ao cenário atual. A indecisão é praticamente inexistente (0,3%).
As questões estabelecem uma conexão entre presente e futuro: se, por um lado, nossos entrevistados afirmam de forma categórica que o Estado está estagnado ou em retrocesso, por outro, expressam um desejo claro por mudança. Considerando que esse público é composto majoritariamente por pessoas com ensino médio ou superior (40,7% – fonte: T.S.E.), com mais de 35 anos e economicamente ativas, é plausível supor que tal avaliação decorra da comparação entre momentos anteriores de suas vidas e o cenário atual. Diante dos desafios sociais e financeiros impostos por eventos recentes como a pandemia e as cheias de maio, que impactaram diretamente o modo de vida ao qual estavam habituados, é razoável considerar que os efeitos desses acontecimentos ainda estejam vivos no cotidiano desses eleitores. Nesse contexto, emerge a insatisfação com a situação atual do Estado, que se projeta sobre a eleição de 2026, alimentando a expectativa por transformação.
Na próxima divulgação, conheceremos as características que os entrevistados consideram ideais em um candidato ao governo do Estado em 2026 e o desempenho dos principais nomes, Augusto Nardes, Edegar Pretto, Gabriel Souza, Juliana Brizola e Luciano Zucco, no chamado Mercado Político – uma análise que avalia as chances de voto de cada pré-candidato.
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, pesquisador em comportamento político, consultor estratégico, analista de dados e diretor do Instituto Methodus. Com mais de 25 anos de experiência no cenário eleitoral brasileiro, destaca-se na análise de tendências e no uso inteligente de dados para estratégias competitivas eficazes.
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