No artigo anterior, conhecemos o histórico de votação das últimas cinco eleições para a escolha de representantes atuantes na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Esta análise proporcionou o entendimento do paradoxo da escolha do Vereador Invisível, resultado da apatia do eleitor que não encontra, mesmo parcialmente, representante dos seus valores cívicos e morais.
Mas, além do histórico, é importante destinar nossos olhares para quem hoje ocupa o cargo de Vereança na cidade de Porto Alegre e entender, de forma cientifica, como o eleitor avalia essa atuação e quais motivações os levam a estas conclusões.
Na pesquisa realizada com exclusividade pelo Instituto Methodus, foi questionado aos eleitores como avaliam a atuação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, obtendo como resultados o gráfico abaixo:
Note que, de uma maneira geral, a Câmara de Vereadores é avaliada de forma regular por quase metade da população (45%), enquanto os outros respondentes se dividem, em maior número, em avaliações negativas. Mas este dado só se torna relevante se obtivermos o esclarecimento de como é feita essa avaliação. Quais são os motivos que levam o eleitor a avaliar de maneira Regular a atuação dos Vereadores eleitos em Porto Alegre?
Não menos importante que entender a origem desta avaliação Regular, o resultado que se torna o maior indicador da necessidade da elucidação dos fatos é o grande percentual de respondentes que Não souberam pontuar o nível em que avaliam a Câmara Municipal.
Relembre que, nas semanas anteriores, publicamos os resultados desta mesma pesquisa no que tange a avaliação dos serviços prestados pela Administração Pública de Porto Alegre que, para os eleitores, é avaliada de maneira regular, majoritariamente, mas possui um grande percentual de avaliações positivas. Esta análise ressalta que, quando o eleitor percebe ações realizadas pela Administração Pública no seu entorno e que, de certa forma, estão lhe beneficiando, se sente satisfeito de uma maneira abrangente e avalia positivamente estes serviços.
Se à Vereança cabe votar e discutir ações que envolvem o bom funcionamento do município, além de servir de fiscalizador do Poder Executivo, ou seja, da atuação do Prefeito, de que forma o eleitor consegue identificar essas ações para realizar uma avaliação ponderada dentro do que de fato é realizado pelo Legislativo Municipal?
Eis que se torna necessária a busca de informações sobre a atuação dos Vereadores. Enquanto a atuação da Administração Municipal é palpável aos eleitores da cidade, a atuação dos Vereadores é intangível, sendo necessária uma investigação mais aprofundada por parte dos eleitores. Mas, de fato, essa investigação é realizada?
No objetivo de esclarecer esses questionamentos, aos respondentes da nossa investigação, realizada em novembro, foi questionado a quantidade de tempo semanal dispensado para obter informações sobre a atuação da Câmara de Vereadores, o que resultou nos seguintes dados apresentados:
Perceba que, segundo os resultados obtidos, grande parte dos eleitores sequer destina alguns minutos do seu tempo para obter informações sobre a Câmara de Vereadores e, dos que se informam, a maior parte não disponibiliza nem trinta minutos do seu tempo na busca por estas informações.
Hoje, a maior parcela dos entrevistados que sinalizam não se informar da atuação da Câmara de Vereadores se concentra nos eleitores com menor nível de escolaridade, até o Ensino Fundamental, e menor poder aquisitivo, com renda familiar até cinco salários-mínimos. E, inversamente, os eleitores que mais se informam, destinando até duas horas da sua semana para buscar informações sobre a atuação dos Vereadores, possuem Ensino Superior e renda familiar acima de cinco salários-mínimos.
Entende-se que, habitualmente, a grande parcela dos moradores de uma cidade não disponibiliza tempo hábil para a busca de informações sobre a atuação dos políticos representantes do Poder Legislativo, por iniciativa própria, pois necessita destinar seu tempo aos afazeres que são prioridades na sua vida, como trabalho, família, lazer, entre outros. Porém, o reflexo desse afastamento da informação influencia diretamente na avaliação da atuação dos Vereadores.
Ao realizarmos o cruzamento das variáveis de avaliação e tempo destinado à busca de informações sobre a Câmara Municipal, a justificativa de uma opinião regular, ou da indiferença da avaliação elucida-se, em parte, pois do total da amostra observada neste estudo, 41% dos respondentes que não se informam, em nenhum momento, sobre as ações da Câmara Municipal, optaram por não destinar qualquer avaliação, e 31% deste mesmo público avaliou de forma regular a atuação da Câmara. Já os respondentes que destinam, mesmo que de forma mínima, algum tempo da sua semana na busca por informações, conseguiram realizar avaliações que refletem a sua percepção de acordo com o nível de informação que recebem.
Agora você, que pensa em ser candidato a Vereador no próximo pleito, ou até mesmo buscar uma reeleição para o cargo, pode estar se perguntando: Se o eleitor se mostra apático, tanto na destinação do seu voto, quanto na avaliação e na busca por informações, o que fazer para reverter sua apatia e conquistar o seu voto?
Posso dizer categoricamente que a busca por essa sintonia não está perdida. Na próxima publicação, analisaremos quais são os interesses do eleitor no que tange a conquista do voto e em quais tipos de eleitores deve-se concentrar os esforços para realização de uma campanha bem-sucedida. Até a próxima semana!
Schaiany Stallivieri é Socióloga, Pós-graduanda em Ciência Política, pesquisadora em Comportamento Político e Analista de Pesquisas do Instituto Methodus.