As análises divulgadas durante a semana passada sobre o tema Vereança possibilitaram a elucidação de fatos outrora desconhecidos por boa parte dos representantes da classe política e dos eleitores de uma maneira geral. Observamos a curva constante de crescimento do Desalento Eleitoral, o que, paradoxalmente, indica a tendência dos eleitores em optarem pela escolha de um representante do protesto e da frustração com o sistema político vigente, o voto no Vereador Invisível. Também, conhecemos o desgaste do interesse na busca de informações sobre a Câmara de Vereadores, especificamente de Porto Alegre, cidade alvo das nossas investigações, e o quanto esse desgaste influencia diretamente no julgamento avaliativo concreto sobre ações realizadas por esta instituição.
Chega-se então na síntese dos apontamentos levantados:
- Observamos que boa parte do eleitorado de Porto Alegre, chegando ao ápice em 2020 com mais de 40% dos eleitores, se afastaram da decisão de indicar um nome ou escolher um partido dentre os disponíveis para o cargo de Vereança;
- Dos eleitores ouvidos no nosso estudo, quase metade não dispõe de nenhum tempo da sua rotina semanal na busca por informações sobre a atuação de representantes políticos que já ocupam o cargo de Vereador, e que, teoricamente, ligam os interesses da população com o poder Executivo Municipal, e;
- A falta de informações influencia diretamente na avaliação do trabalho do Legislativo, resultando em um julgamento superficial da atuação da Câmara dos Vereadores na percepção dos eleitores.
Existe então, norteando o próximo pleito para o cargo de Vereança, três indicadores de que ações com prioridade de urgência serão necessárias, realizadas tanto por candidatos que tentarão a reeleição ao cargo, quanto por candidatos que disputarão a eleição para um primeiro mandato como Vereador.
As estratégias que necessitarão ser tomadas precisam de conhecimento específico. É plausível que, pessoas que não possuem o entendimento e conhecimento do comportamento e das subjetividades do eleitor, concluam que, ao se deparar com os três indicadores levantados, decida por não concentrar seus esforços no eleitor que de fato apresente as características citadas, pois entenda que este não retornará, de forma alguma, ao processo democrático de escolha, e se concentre somente nos eleitores que de fato continuam participando do processo eleitoral, destinando votos nominais ou na legenda e elegendo Vereadores que possam ocupar a cadeira na Câmara por quatro anos. Mas esta análise está deveras equivocada.
O eleitor anseia por escolher candidatos que estejam alinhados a valores que são intrínsecos a ele, e demonstra isso nos informando quais são as principais características que levam em consideração no momento de escolha por quem destinar o seu voto. Hoje, os atributos de interesse do eleitor, de uma maneira geral, à escolha para Vereador são:
Considerando a amostra total dos respondentes, onde estão inseridos os eleitores que buscam informações sobre a atuação da Câmara dos Vereadores, ocupando algum nível do seu tempo ou não dispõem de nenhum tempo para essa busca, os principais atributos de escolha dizem respeito a que questões mais individualizadas. Conhecer as prioridades do bairro está vinculado ao dia a dia do eleitor, suas vivencias e as necessidades básicas para que possa ter um maior conforto ao seu redor. Já o segundo atributo mais citado, ser Defensor de algum tema do interesse do eleitor, está vinculado exclusivamente a valores, morais e éticos, que, encontrados totalmente ou em parte em um representante, torna possível uma aproximação mais efetiva do candidato com os moradores.
É possível então afirmar que, mesmo os eleitores apáticos ao processo eleitoral demonstram motivações para encontrar um candidato ou candidata que chame a sua atenção.
A disputa pelo cargo de Vereador possui uma facilidade no encontro do contexto ao qual a estratégia de campanha irá se concentrar. O candidato, quando demonstra o interesse pelo cargo de Vereança, normalmente já desenvolve atividades as quais servirá como alicerce durante a sua campanha, desenvolvendo a pauta ao qual defenderá durante todo o pleito eleitoral. Logo, a busca pelo eleitor que corrobore com essa mesma defesa e se identifique com a pauta da campanha é facilitada.
Porém, ainda não podemos nos esquecer que, mesmo os eleitores apáticos ao processo indicarem os atributos que chamam a sua atenção em uma campanha ao cargo de Vereança, a relação entre a demonstração do interesse e a ação efetiva de votar em um candidato alinhado aos seus valores ainda é fragilizada. E para reverter essa fragilidade é preciso um acompanhamento comportamental do candidato em relação ao seu possível eleitor, e do eleitor em relação ao seu possível candidato.
Este acompanhamento precisa ser realizado por especialistas em comportamento político que, juntamente com o candidato ou candidata e seus dirigentes de campanha, consigam efetivamente identificar os anseios dos eleitores alinhados com a pauta da candidatura, a partir do estudo de tendencias comportamentais, além de alinhar a base política desta campanha e identificar de fato os eleitores que podem ou não influenciar seus pares e multiplicar a conquista de votos efetivos para uma eleição bem-sucedida.
Concluo dizendo que, em um cenário de dificuldades, a atuação efetiva se torna necessária e indispensável para que um voto se torne múltiplos votos, e o interesse se torne representação.
Até breve.
Schaiany Stallivieri é Socióloga, Pós-graduanda em Ciência Política, pesquisadora em Comportamento Político e Analista de Pesquisas do Instituto Methodus.