Como meus leitores sabem, meu trabalho consiste em observar gráficos, levantar estatísticas e analisar os números. Foi durante uma leitura casual no dia 25 de abril que notei que o Big Brother Brasil havia escolhido a vencedora da edição. Ao continuar lendo o artigo, percebi que havia uma ampla repercussão do evento nas mídias sociais, o que me deixou bastante curioso. É importante ressaltar que nunca assisti a um episódio do BBB e, portanto, desconheço as suas dinâmicas. A única informação que possuo é que diversos candidatos selecionados vivem em uma casa totalmente monitorada por câmeras durante 100 dias, com acesso aberto a todos os expectadores, 24 horas por dia. A vencedora da edição nº 23 do Big Brother Brasil (BBB 23) conquistou 68,9% dos votos, enquanto a segunda colocada obteve 16,9% e a terceira, 14,1%. Fiquei bastante interessado com esses percentuais e decidi pesquisar quantas pessoas votaram ao total na final do reality. No entanto, já na primeira busca, fui surpreendido: o voto não é único, permitindo que uma pessoa vote várias vezes em candidatos diferentes. Portanto, minha pesquisa deveria ser baseada no número de votos, e não no número de pessoas que votaram. Descobri que o número total de votantes na final do BBB 23 foi de 76.290.810. Eu simplesmente não conseguia acreditar! Imaginava que esse número seria incrível, então decidi pesquisar quantos votos as edições anteriores tinham registrado em suas finais para determinar a pessoa vencedora. Mas o que eu descobri me surpreendeu profundamente! Essa final não se encaixava nem entre as cinco melhores desde o início do Big Brother no país! Fiquei surpreso com a quantidade de votos das edições anteriores do BBB. Na última temporada do BBB 22, houve um total de setecentos e cinquenta e um milhões de votos, enquanto a edição anterior do BBB 21 obteve seiscentos e trinta e três milhões de votos. As edições anteriores a 2021 tiveram menos votos, oscilando entre cento e cinquenta e quatro milhões, cento e quarenta e dois milhões e cento e trinta milhões. É impressionante notar o alto nível de interesse do público pelo programa, demonstrado pelos números de votos que chegam a centenas de milhões em uma única edição. Agora, relembrando a votação da última edição do BBB 23, a vencedora do reality obteve uma votação que chegou à 68,9%. Se calcularmos esse percentual pelo total de votos, que foi de 76.290.810, podemos observar que a vencedora desta edição venceu com 52.564.368 votos. É importante ressaltar que cada voto não representa necessariamente uma pessoa, pois a mesma pessoa pode votar várias vezes. De uma forma criativa, se compararmos os cinquenta e dois milhões de votos obtidos pela vencedora do BBB 23 com a eleição presidencial do Brasil de 2022, no segundo turno, observaremos que o Presidente Lula foi eleito com 60.345.999 de votos. É importante lembrar que, neste caso, cada voto foi único para cada pessoa. A minha análise não tem como objetivo comparar uma eleição presidencial com um reality show, pois isso poderia ser considerado vulgar e desrespeitoso. O ponto central é entender por que o engajamento do povo brasileiro é tão intenso em relação a um reality show enquanto, ao mesmo tempo, a participação e o envolvimento da população com a política em geral é tão baixo. É crucial refletir sobre como os partidos políticos podem despertar maior curiosidade e engajamento com o eleitor. Como os políticos podem estimular a interação dos cidadãos quando se fala de questões públicas? É desconcertante observar que um cidadão brasileiro pode votar talvez dezenas de vezes para a final do BBB 23, mas não participar no dia das eleições. É essencial entender o porquê dessa diferença de interesses e trabalhar para aproximar o cidadão da política, conscientizando-o sobre a importância do voto e dá participação ativa na vida democrática do país. Este é mais um, dos vários desafios que os partidos e candidatos têm pela frente para as eleições municipais de 2024.
Alessandro Rizza é italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é Pesquisador em Comportamento Político e Analista de Pesquisas do Instituto Methodus.