A nova janela de navegação anônima é uma das opções mais utilizadas no navegador Chrome quando se deseja não deixar rastros da atividade de navegação na internet. Eu mesmo me iludia achando que estava protegido. Pelo menos é assim que deveria ser, mas aparentemente não é, de acordo com os ‘milhões de usuários’ que processaram o Google em 2020 por violação de sua privacidade durante o uso do Chrome no Modo de Navegação Anônima.
Agora, de acordo com vários sites de notícias americanos (como Ars Technica), a empresa de Mountain View parece ter chegado a um acordo que lhe permitirá encerrar essa ação coletiva no valor mínimo de 5 bilhões de dólares. O Google foi acusado de rastrear secretamente, através do Chrome, mesmo durante o uso no Modo de Navegação Anônima, a atividade na internet de milhões de pessoas que acreditavam estar navegando de forma privada. Iniciado há mais de 3 anos, o processo dizia respeito ao suposto rastreamento que teria ocorrido desde 1º de junho de 2016, solicitando pelo menos 5 mil dólares de indenização por usuário devido à violação das leis de interceptação e privacidade.
De acordo com a acusação, os softwares do Google Analytics, cookies e outros aplicativos da Big G permaneceram ativos e continuaram monitorando a atividade dos usuários mesmo quando eles estavam em modo de navegação privada. Isso transformou o Google em um “tesouro incontrolável de informações”, permitindo à empresa conhecer amigos, hobbies, comidas favoritas, hábitos de compra e até mesmo “coisas potencialmente constrangedoras” pesquisadas online pelos usuários. Além das informações que normalmente já possui, é claro.
O Google tentou arquivar o caso defendendo-se com a mensagem que aparece ao ativar o Modo de Navegação Anônima no Chrome (imagem no topo da página), que diz aos usuários que sua atividade “pode ainda ser visível nos sites visitados”. Contudo, isso não foi suficiente; o processo prosseguiu e resultou neste acordo, cujos detalhes não foram divulgados e serão formalmente revelados no tribunal até 24 de fevereiro.”
A análise política e comportamental aqui é multifacetada. Em primeiro lugar, há uma questão de confiança e expectativas dos usuários em relação à privacidade online. O desapontamento dos usuários que acreditavam estar navegando anonimamente, contrastando com a realidade de monitoramento contínuo por parte do Google, alimentou a reação legal e a busca por reparação.
Do ponto de vista político, há uma tensão crescente entre a proteção da privacidade individual e as práticas das grandes empresas de tecnologia. Esse caso destaca a importância da regulamentação e do controle das atividades de empresas que lidam com dados sensíveis dos usuários. A reação legal e o montante da indenização proposta sugerem uma reivindicação por parte da sociedade civil e dos órgãos reguladores por maior responsabilidade e transparência por parte das gigantes da tecnologia.
Comportamentalmente, essa situação pode afetar a confiança dos usuários no Google e em outras empresas de tecnologia, potencialmente influenciando suas escolhas de uso de plataformas e a conscientização sobre a privacidade online. Pode também impulsionar discussões mais amplas sobre o direito à privacidade e a necessidade de proteção eficaz dos dados dos usuários no ambiente digital.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.