Significado da reunião de 2023 do BRICS
2023, na África do Sul, significou a retomada das reuniões presenciais dos líderes do BRICS. E essa retomada é simbólica, num mundo pós-pandemia, com um dos seus membros, a Rússia, em guerra. É também a retomada do Brasil com o presidente Luís Inácio da Silva em seu terceiro mandato.
A XV Cúpula Anual dos BRICS é uma Cúpula histórica. O bloco demonstrou o seu amadurecimento institucional, deixando de lado eventuais diferenças e focando nas imensas possibilidades, sejam econômicas, comerciais, tecnológicas, de desenvolvimento, investimentos, e também políticas.
Com o tema BRICS e África: Parceria para o Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo, a Cúpula aconteceu em Joanesburgo com a presença de mais de sessenta países convidados, entre eles trinta chefes de estado africanos; o que demonstra o prestígio e a relevância internacional do grupo.
Com uma declaração final com mais de 90 itens, praticamente abrangendo todos os temas, como desenvolvimento, cooperação acadêmica, meio-ambiente, comercio, tecnologia, empoderamento das mulheres, entre outros, o bloco começa a consolidar uma visão para o mundo, presente e futuro.
Mas a grande novidade foi o convite para a inclusão de seis novos membros: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia, Argentina e Irã. Com essa adesão, o BRICS passa a ser o maior bloco do planeta, sob qualquer ângulo que se olhe, como tecnologia, comércio, população, território e PIB.
A grande questão, e o grande desafio, dos próximos anos é compatibilizar a enorme diversidade existente entre os países, e os seus respectivos interesses. Haverá necessidade de uma engenharia diplomática de alto nível. Certamente haverá avanços e eventuais crises e divergências. O novo bloco não é homogêneo em termos de economia, cultura, valores, interesses, história e etc.
ALGUNS NÚMEROS
Em 2022, antes da ampliação, portanto, os BRICS já representavam aproximadamente 25% do PIB global e mais de 40% da população. Com a ampliação, Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito, Argentina e Irã representam mais de 45% da população mundial, com quase quatro bilhões de habitantes. E o PIB já é de mais de um terço do PIB mundial.
Esses números, por si, afiançam a importância do bloco no cenário internacional. Uma negociação, resolução interna do bloco poderá redefinir o desenvolvimento global nos anos posteriores. Por exemplo, com o ingresso dos novos membros, haverá um fortalecimento exponencial do Banco dos BRICS, e a definição de para onde serão canalizados os investimentos, isso impactará fortemente na dinâmica de desenvolvimento de regiões do planeta. A infraestrutura e o desenvolvimento de novas regiões abrirão potentes mercados e espaços de investimento; ou seja, novos atores entrarão no cenário com relevância e protagonismo, por exemplo, no continente africano.
As decisões sobre os rumos da humanidade não serão mais definidas por um seleto grupo de economias (como o G7, por exemplo), e serão ditados, ou influenciados, por um número maior e mais diverso de nações.
Julio Pujol é Professor de História e Especialista em História do Brasil pela UFSM e MBA Identidade Empresarial pela Antonio Meneghetti Faculdade. Diretor do Instituto Alta Política.
A análise sobre os BRICS será apresentada em quatro publicações, sempre as quartas feiras.
Nos acompanhe e fique sabendo tudo que Julio Pujol nos ensinará sobre este tema!
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