OS BRICS E A ÁFRICA
A África, neste instante, vive um processo de ebulição, com vários golpes de estado, ou revoluções, e tomadas de poder. Os episódios recentes guardam uma característica em comum: um sentimento anticolonial, particularmente em relação à França. E colonialismo, na África, tem a marca europeia.
A descolonização na África é um processo muito recente, de 40 a 50 anos, ou seja, nos anos 1960/70 deste século, vários países europeus ainda detinham colônias na África. O caso francês é o mais emblemático. Nos acordos de independência de suas colônias a França continuou exercendo pesada influência e controle sobre os novos países, seja no campo econômico, monetário, político e militar. O país europeu mantém milhares de soldados no continente africano, para defender seus interesses econômicos e políticos, apoiando e sustentando golpes de estado e ditaduras de seus aliados. Ainda controla a exploração de recursos naturais, a moeda, e reservas cambiais de muitos países.
BRICS
Rússia: No Campo militar a Rússia tem apoiado governos que questionam esse neocolonialismo francês, e ocupado parte do espaço que já foi incontestavelmente da França; lembrando que a antiga União Soviética teve um forte papel na descolonização africana no pós-guerra.
China: A China hoje já é a maior investidora em todos os campos no continente africano. São centenas de obras de infraestrutura em diversos países do continente. Além disso, grandes empresas chinesas tem transferido parte de sua produção para países africanos em busca de facilidades de operação e de mão-de—obra mais barata. Paradoxalmente hoje a África é a China da China, ou seja, o que muitas empresas buscavam na China há 30 ou 40 anos atrás, (mão de obra barata, mercado e facilidades) a China está buscando na África.
Brasil: o Brasil, por sua afinidade cultural e histórica natural com o continente, tem a simpatia dos africanos e tem buscado uma reaproximação, seja no campo da assistência e cooperação tecnológica, no comércio, na segurança alimentar, nos investimentos, na infraestrutura e na cultura.
Índia: A Índia hoje é o segundo parceiro comercial do continente africano, precedido apenas pela China. O comércio entre os dois países, segundo a ONU, cresceu numa média de 17,2% desde 2001. Há uma identidade cultural entre a Índia e partes da África para onde, no período colonial, foram enviados milhares de indianos como mão-de-obra. Hoje vivem na África muitos indianos e seus descendentes.
Além do mais, a presença da Índia no continente é um contraponto à expansão chinesa naquele território.
Devido ao acelerado crescimento indiano, há a necessidade de muitos insumos, particularmente de energia, que a África fornece. Enquanto isso a Índia fornece ao continente muitos bens acabados.
África do Sul: A África do Sul quer se consolidar, via BRICS, como líder natural e interlocutora do continente frente ao mundo. Não por acaso mais dois países africanos foram convidados a fazer parte do bloco, Egito e Etiópia.
Em resumo, a presença dos BRICS na África é um fato. E um fato definidor de futuro. A África volta à cena, afiançada pelos BRICS e, claro, por suas próprias ações e processos internos. É a nova zona de expansão do mundo. E os BRICS estão lá. De um modo qualitativamente diferente do que foi o tradicional colonialismo europeu. Isso obriga a Europa a rever seu modelo de relação como continente africano.
A EUROPA
A Europa está um pouco demasiadamente atrelada à política norte-americana. Tem perdido sua autonomia de decisão no cenário mundial e andado a reboque da orientação dos EUA. Parece que neste momento faltam ao continente aquelas inteligências que construíram a unidade europeia e o Euro e que a tornaram uma grande promessa de futuro para a humanidade. Macron tenta se destacar, mas o continente parece ter aderido a um conservadorismo e a um discurso do politicamente correto que condiciona a todos. A Europa vive com a pauta da guerra e da segurança energética. É preciso que comece a falar por si e andar por si. Com os EUA será sempre guerra, dependência e colonialismo.
Realmente, a balança do mundo está se reajustando. Nada é simples, como parece que está sugerido neste texto. Estamos no meio, ou no início, de um processo. Acontecem movimentos e reações. Quem vai perdendo a hegemonia é certo que reage e se rearticula. Quem quer seu espaço de protagonismo, se movimenta.
Julio Pujol é Professor de História e Especialista em História do Brasil pela UFSM e MBA Identidade Empresarial pela Antonio Meneghetti Faculdade. Diretor do Instituto Alta Política.
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