A disputa eleitoral no Brasil reflete uma complexa interação entre fatores culturais, socioeconômicos e políticos, variando significativamente entre as diferentes regiões do país. Neste estudo, investigamos a relação entre o engajamento eleitoral e a predominância ideológica regional, analisando a existência de territórios em disputa entre as duas forças que dominam o cenário político nacional desde as eleições de 2018: a esquerda, representada pelo Lulismo, e a direita, representada pelo Bolsonarismo.
Para isso, analisamos os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (T.S.E.) referentes às duas últimas eleições nacionais, de 2018 e 2022. Foram consideradas informações sobre eleitores aptos, abstenção, votos válidos, desalento eleitoral, perfil sociodemográfico e desempenho eleitoral em diferentes cargos, como deputados federais, estaduais, senadores e governadores.
A partir de 2018, com a realização da primeira eleição verdadeiramente polarizada no Brasil, observamos mudanças profundas no comportamento do eleitor. A partir desse momento, os brasileiros passaram a expressar sua posição ideológica de forma mais contundente, elevando a temperatura da disputa e acentuando a divisão do país entre “nós” e “eles”.
Essa característica é observada no domínio ideológico, identificado por meio do voto em candidatos e partidos de diferentes correntes políticas nas diversas regiões do Brasil.
Ao calcular a Taxa de Engajamento Nacional, que é de 73,7%, e corresponde à média de participação eleitoral, podemos categorizar as regiões do país de acordo com suas características:
Centro-Oeste: Engajamento de 72,8% (abaixo da média nacional). Predominância da direita, com o PL como partido mais votado.
Top 3 Partidos:
- PL – 9.381.055 votos
- PT – 5.624.507 votos
- UNIÃO BRASIL– 5.466.705 votos
Nordeste: Engajamento de 75,7% (acima da média nacional). Predominância da esquerda, com o PT liderando amplamente.
Top 3 Partidos:
- PT – 44.267.943 votos
- PL – 20.258.831 votos
- UNIÃO BRASIL– 14.350.508 votos
Norte: Engajamento de 73,5% (próximo à média nacional). Predominância da direita, com o PL à frente.
Top 3 Partidos:
- PL – 6.729.211 votos
- PT – 4.532.609 votos
- MDB – 3.145.302 votos
Sudeste: Engajamento de 71,8% (o menor do país). Predominância da direita, mas com o PT ainda competitivo.
Top 3 Partidos:
- PL – 60.111.770 votos
- PT – 40.624.585 votos
- REPUBLICANOS – 15.553.814 votos
Sul: Engajamento de 76,0% (o maior do país). Predominância da direita, com o PL consolidado em Santa Catarina e Paraná.
Top 3 Partidos:
- PL – 20.494.858 votos
- PT – 16.846.905 votos
- PSD – 9.465.821 votos
As regiões onde a direita domina possuem um eleitorado mais participativo, com taxas de engajamento elevadas, principalmente entre eleitores com Ensino Médio Completo. Em contrapartida, eleitores com menor escolaridade (analfabetos e aqueles com Ensino Fundamental Incompleto) são os que mais se abstêm. O eleitor médio nas áreas de predominância da direita tem um nível educacional superior ao das regiões dominadas pela esquerda, onde há maior presença de eleitores com menor escolaridade.
A polarização não apenas delimitou o campo da disputa, mas também evidenciou diferenças socioeconômicas entre os eleitores, resultando na formação de diversos grupos com padrões distintos de participação política.
A mudança de posição ideológica de uma parcela significativa dos brasileiros revela os desafios que tanto a esquerda quanto a direita enfrentarão nas eleições de 2026. A regionalização das disputas, analisada neste artigo, é essencial para compreender a profundidade dessa transformação.
O cenário político brasileiro segue em transformação, e compreender a dinâmica regional do engajamento eleitoral será essencial para antecipar os rumos das próximas eleições e os desafios que moldarão o futuro do país.
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José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, pesquisador especializado em comportamento político, consultor estratégico, analista de dados e diretor do Instituto Methodus. Com mais de 25 anos de experiência no cenário eleitoral brasileiro, consolidou seu conhecimento sobre dinâmica do comportamento eleitoral, análise de tendências e desenvolvimento de estratégias políticas eficazes. Sua atuação se destaca na transformação de dados em inteligência aplicada, otimizando campanhas e decisões dentro de ambientes políticos altamente competitivos.