Sustentei na divulgação anterior que partidos e políticos no Brasil não costumam orientar suas estratégias utilizando dados. Prevalecem em suas decisões políticas as convicções e crenças que os acompanham historicamente. Portanto, é natural que surja desconforto diante de resultados científicos que não vão ao encontro de suas certezas.
Será que isso significa que tudo é relativo? Que não podemos fazer nada ou um convite para que possamos olhar a situação de outra maneira?
“Claro que faz parte da arte política intuir um estado de opinião do eleitorado, antecipar-se e corresponder às suas expectativas, mas isso não basta para definir, com suficiência, uma política bem-sucedida, já que nesse caso o seu melhor exemplo seria o populista com menos escrúpulos. O sucesso na política e o sucesso político não são necessariamente idênticos. – Daniel Innerarity – Política em tempos de indignação”.
Como nos ensina Innerarity, as avaliações potencialmente duradouras exigem certo distanciamento e aquilo que parece ser um êxito visto de perto pode ser um fracasso contemplado a partir de longe.
O convido a conhecer os resultados que estamos divulgando para ampliar seu conhecimento sobre o tema e, lembre-se, estamos distantes da eleição, para os poucos que compreendem a disputa política no seu tempo toda dificuldade pode ser uma oportunidade!
Esqueça esta conversa de que pesquisas eleitorais são um retrato do momento. É possível acumular conhecimento investigando o ambiente político com serenidade e de preferência com o auxílio de especialistas que saibam interpretar dados desprovidos de paixões.
Iniciamos pela apresentação da simulação espontânea, mas primeiro vou explicar o seu significado e como podemos interpretá-la.
O eleitor ao ser entrevistado não sabe o que será perguntado. Esta condição nos oferece a oportunidade de registrar sua resposta mais autêntica. Por isso, em pesquisas bem planejadas e que não influenciam o eleitor em suas respostas, a pergunta – Se a eleição fosse hoje, em quem você votaria para prefeito? é apresentada como a primeira opção.
De todas as simulações, esta é a de maior importância, pois revela a resposta com a maior carga de sinceridade que os entrevistados podem oferecer.
Vejamos o que responderam:
A primeira observação vai para os 73% que disseram não saber responder à questão. Pense comigo, neste momento você saberia citar o nome de um candidato a prefeito de sua cidade? Pergunte a alguém que esteja próximo, rapidamente constatará que seu interlocutor também não sabe! Mas qual o significado de não saber responder?
Eleitores, alheios a eleição que se avizinha, se expressam naturalmente e sem artificialismos nos dizendo: Não sei quem serão os candidatos; preciso me informar; vou esperar as eleições para decidir; não pensei ainda; não sei.
Para apresentar os resultados, institutos de pesquisas, assim como nós, reúnem as diversas respostas na legenda Não Sabe. Portanto, os adjetivos que qualificam o substantivo não sabe, carregam diversos significados revelando que os eleitores, majoritariamente, estão desatentos, desinteressados ou desinformados sobre os possíveis candidatos que poderão disputar a próxima eleição.
Em contrapartida, os percentuais obtidos por aqueles que foram citados espontaneamente na simulação indicam a existência de um capital político que dificilmente será alterado nos próximos meses. Para sustentar esta afirmativa, comparamos os resultados entre as simulações espontâneas realizadas em nossa primeira pesquisa divulgada em abril e a que estamos divulgando hoje.
Sete meses após a primeira divulgação encontramos os mesmos percentuais, entre dois possíveis candidatos e os indecisos (não sabe), nas simulações espontâneas.
Será a possibilidade da mudança de opinião ao longo do tempo que determinará o sucesso ou fracasso das disputas eleitorais!
Hoje, o atual prefeito detém a vantagem na disputa e trabalha para que os eleitores reelejam sua administração no próximo pleito. A oposição se ocupa da deliberação, desperdiçando o tempo que poderia ser dedicado a conhecer as expectativas e frustações dos eleitores que não desejam a reeleição do atual prefeito.
Como já destaquei, toda dificuldade pode ser uma oportunidade, quando bem aproveitada!
Apresentamos duas simulações estimuladas, de um total de quatro que serão divulgadas. Diferentemente da espontânea, a estimulada propõe cenários de disputas, exigindo que agora o eleitor faça uma escolha.
Nosso plano foi confrontar os possíveis candidatos, promovendo o rodízio dos nomes das candidatas que se encontram no espectro político de centro esquerda ou esquerda, mantendo os demais nomes permanentemente nas simulações. Desta maneira, observamos as escolhas dos eleitores que não desejam a reeleição do atual prefeito, conhecendo as chances de voto nos possíveis candidatos de oposição.
A disputa com candidatos de oposição, ainda ignorados pelos eleitores, revela que Sebastião Melo-MDB venceria em Porto Alegre se a eleição fosse hoje.
A soma de todos os percentuais obtidos por seus oponentes e por aqueles que optaram em votar branco/nulo ou não sabe, chega a 48%, percentual inferior aos 52% alcançados pelo atual prefeito nesta simulação.
Na segunda simulação, substituímos Juliana Brizola-PDT por Luciana Genro-PSOL e incluímos Viera da Cunha-PDT. A nova simulação não promove movimentação significativa na escolha dos eleitores e não ameaça as chances de reeleição de Sebastião Melo-MDB se a eleição fosse hoje.
Os 17% obtidos por Luciana-PSOL nesta simulação, provém daqueles que optaram por Juliana-PDT (13%) e dos eleitores que votaram branco/nulo na simulação anterior.
Diante deste panorama destaco quatro temas que devem ser enfrentados por aqueles que pretendem disputar as próximas eleições na Capital:
- A ausência de motivos que justifiquem uma mudança no futuro beneficia exclusivamente o atual mandatário da administração.
- A inexistência, neste momento, de um representante legítimo da extrema direita na disputa reduz dramaticamente a possibilidade de reedição da polarização observada na capital em 2022.
- A transversalidade do voto em Sebastião Melo, que conquista votos na direita, centro e esquerda, adulterando a identidade ideológica de seus opositores, deixa os eleitores com a sensação de que situação e oposição não concorrem entre si.
- A falta de reconhecimento na vocação para governar de boa parte dos candidatos testados, relatada pelos eleitores, é outro fator que deve ser observado para compreensão destes resultados.
Na próxima divulgação, conheceremos as duas últimas simulações estimuladas e a rejeição.
Estas e outras informações serão divulgadas na quinta feira, dia 9 de novembro de 2023, exclusivamente no site do Instituto Methodus.
Até breve!
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, Pesquisador em Comportamento Político no Laboratório de Política, Comportamento e Mídia – Labô e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou políticos, governos e instituições nos Estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Tocantins, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e Goiás.