No final do ano passado, antes, durante e até mesmo depois do processo eleitoral, as redes sociais foram inundadas com postagens e depoimentos de pessoas dizendo não acreditarem no processo eleitoral, mais especificamente nas urnas eletrônicas, e que os resultados não seriam confiáveis.
Em uma pesquisa realizada neste mês de abril, o Instituto Methodus investigou esta temática e analisou o perfil do eleitorado de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (RS), buscando decifrar em que nível os eleitores acreditam, ou não, no resultados das eleições de 2022.
Sobre os eleitores acima de 55 anos
Através de cruzamentos dos diferentes perfis dos respondentes, percebe-se por que, você leitor deste texto, recebia mensagens de WhatsApp daquelas tias e tios, parentes mais velhos (próximos ou não) ou amigos nem tão próximos assim suspeitando dos resultados. Ao analisar os dados deste estudo, fica evidente que os eleitores que mais duvidam dos resultados de 2022 são aqueles com idade mais avançada. Para podermos analisar este fenômeno foi apresentado ao eleitor uma escala de 01 a 10, onde 01 significava “Não acredito de jeito nenhum”, até 10 “Acredito totalmente” no resultado das eleições de 2022. O eleitor podia escolher um número de 01 a 10 na escala, indicando livremente seu grau de credibilidade no sistema.
Os eleitores com mais de 55 anos foram aqueles que disseram acreditar menos no processo eleitoral. Um total de 37,2% destes eleitores escolheu notas de 01 a 04 na escala, enquanto 48,8% escolheram notas de 07 a 10 na escala.
Embora os números não estejam tão distantes entre si, é importante salientar que nesta faixa de idade é onde se observa a maior incidência de eleitores descrentes nos resultados de 2022. Também devemos observar o crescimento exponencial deste perfil de eleitor em cada eleição no Brasil. O site do Tribunal Superior Eleitoral disponibiliza dados eleitorais desde 1994 e desde então, praticamente dobrou o número de eleitores com mais de 60 anos. Se em 1994 eles eram 11,6 milhões de eleitores, em 2022 já chegavam a 20,4 milhões.
Com a diminuição nos índices de natalidade desde o início dos anos 2000, está acontecendo uma inversão na tabela demográfica brasileira. A expectativa do IBGE é que, até 2030, o número de idosos(as) deve superar o de crianças e adolescentes de zero a quatorze anos.
Além de uma identidade mais “tradicional” e “conservadora” este perfil de eleitores acima de 60 anos só cresce ao longo dos anos e tende a ter cada vez mais influência no resultado das eleições. Só este fato já justifica uma estratégia de entendimento e conquista desta base de eleitores.
Sobre os eleitores até 35 anos
Já os mais jovens possuem outra visão sobre o sistema eleitoral. Apenas 20,3% daqueles com menos de 35 anos escolheu notas até 04 na escala, enquanto 67,1% escolheram notas acima de 07 na escala. Percebe-se que os mais jovens têm uma percepção muito mais positiva do resultado eleitoral.
Gênero
Observando os dados através do gênero dos respondentes, percebe-se que as mulheres são as que mais acreditam no resultado das eleições. Se 28% das eleitoras atribuíram notas 01 até 04 na escala, aquelas que escolheram 07 até 10 são 61,5%.
Já quando analisamos os dados do eleitorado masculino, aqueles que deram notas 01 a 04 são 33,8% enquanto aqueles que escolheram 07 até 10 são 51,5%. Se buscarmos dados no IBGE sobre idade e gênero do eleitorado brasileiro, podemos observar claramente que as mulheres são maioria no eleitorado (53% contra 47%). Este é um ponto importante nas estratégias eleitorais majoritárias, pois as mulheres têm pautas de interesse bem específicas nas eleições. Educação e saúde da família tendem a ser pontos de muito interesse neste perfil de eleitorado.
Esquerda x Direita
A pesquisa também buscou entender como os eleitores se definem ideologicamente numa escala entre Esquerda, Centro e Direita. Para tanto, o estudo realizou um cruzamento de dados entre a Escala Ideológica e o resultado da menção de confiança nas eleições. A mesma escala de 01 e 10 foi utilizada, onde 01 seria uma escolha se o eleitor se considera de extrema esquerda, 05 e 06 de centro e 10 onde o eleitor se considera de extrema direita. Daqueles eleitores que se auto intitularam de esquerda, notas entre 01 e 04, 70% escolheram 10 na escala, indicando confiança total nos resultados. Entre aqueles que se definiram em 05 ou 06 (centro) 46% escolheram 10 na escala. Já entre aqueles que se definiram como de direita, notas de 07 a 10, apenas 18% disseram acreditar nos resultados, enquanto 53% deram nota 01 de descrédito total nos resultados.
Mas afinal, como pensa o eleitor de Porto Alegre?
Se analisarmos os números do eleitorado de Porto Alegre de forma consolidada e utilizarmos o critério de que quem deu nota entre 01 e 04 na escala não acredita ou acredita pouco nos resultados de 2022, veremos que 29,7% seria o percentual deste eleitorado.
Já quando analisamos os eleitores que escolheram na escala notas entre 07 e 10 significando eleitores que acreditaram muito ou totalmente nos resultados, este percentual é de 57% do total. O restante do eleitorado se definiu como acreditando medianamente nos resultados, escolhendo 05 ou 06 na escala.
Com base nos dados deste estudo, fica bastante claro que existe um contingente muito maior (57%) de eleitores que acreditam nos resultados apresentados pelo TSE ao final das eleições de 2022 do que aqueles que são descrentes (29,7%) dos mesmos resultados. Se considerarmos a influência das redes sociais nos últimos processos eleitorais e principalmente a enorme disparidade de informações positivas e negativas em relação aos resultados eleitorais, podemos concluir que a maioria do eleitorado de Porto Alegre ainda leva em consideração a credibilidade da gestão sobre o processo eleitoral e a confiabilidade das urnas eletrônicas.
Por outro lado, como obtivemos um percentual de quase um terço do eleitorado descrente em algum nível dos resultados, cabe ao TSE esforços de divulgação e esclarecimento sobre todo o processo eletrônico de gestão das eleições, visando a diminuição ao extremos destes índices de descrédito.
Jefferson Jaques é Pós-Graduado em Marketing, pesquisador em Comportamento Político e Diretor no Instituto Methodus. Nos últimos vinte e três anos, orientou campanhas eleitorais nos estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas e Santa Catarina.