É oficial: estamos a menos de um ano das eleições municipais de 2024. É momento para as especulações se aflorarem, as conversas se intensificarem, e os eleitores começarem a conhecer os pré-candidatos. Ou melhor, os possíveis pré-candidatos. Os veículos de imprensa fazem seu trabalho, reportando os bastidores da política local e divulgando as primeiras pesquisas de intenção de votos. Com diversas pesquisas estimuladas, elas podem até parecer precoces, mas escondem muita informação relevante dos eleitores.
O fato é que, mesmo com bons números à disposição, o cenário a um ano das eleições ainda é incerto. Quando o assunto é eleições em capitais ou grandes cidades, tudo fica ainda mais incerto. Há muitos eleitores, distribuídos em áreas extensas, com necessidades variadas. Como também o foco dos políticos em mandato interessados em ampliar sua influência nessas cidades; no caso das maiores cidades brasileiras, inclusive o interesse de presidenciáveis. Em Goiânia, a maior eleição municipal da região Centro-Oeste, não seria diferente. O próximo pleito chama a atenção de políticos locais e nacionais. E há 3 pontos que merecem atenção para compreendermos as próximas eleições em Goiânia.
- Os eleitores goianenses de Bolsonaro ganham eleição?
“Goiânia é a capital do Bolsonarismo”.
Ouvi essa frase de amigos goianenses na campanha de 2020. Os números confirmam: Bolsonaro (PL, anteriormente PSL) liderou a disputa de votos entre os goianense nas duas últimas eleições. Em 2018, disputando contra Fernando Haddad (PT), somou 63,45% dos votos válidos no 1º turno; no 2º turno, 3/4 dos eleitores goianenses (74,20%) que votaram em um candidato escolheram Bolsonaro. Em 2022, contra Lula (PT), os números caíram, mas Bolsonaro manteve seu domínio entre os eleitores da cidade: com 56,09% dos votos válidos, no 1º turno; no 2º turno, somou 2/3 dos votos válidos (63,95%).
O eleitor goianense parece confiar em Bolsonaro, mas também nos candidatos apoiados por ele ou que compartilham do mesmo discurso. Gustavo Gayer, deputado federal eleito em 2022, é um exemplo disso. O candidato ficou famoso nas redes sociais pelo discurso conservador e anti-petista, alinhado ao bolsonarismo. O sucesso nas redes gerou sucesso nas urnas, onde Gayer somou 200.586 votos, sendo 83.604 somente em Goiânia. Isso dá 1/9 dos votos válidos na capital! Não há como negar a força do bolsonarismo em Goiânia. Cabe ficarmos atentos a como isso pode impactar nas próximas eleições.
- Será uma eleição sem os grandes nomes?
Quando em grandes nomes da política goianense, devemos falar do MDB. O partido não perde uma eleição à Prefeitura de Goiânia desde 2000, Pedro Wilson (PT) foi eleito após dois turnos. Em 2024, há a possibilidade de termos o primeiro pleito sem um nome conhecido do MDB em anos, por conta dos recente falecimentos de Iris Rezende e Maguito Vilela, eleitos pelo partido em 2016 e 2020, respectivamente. Como será a migração dos votos do MDB para outros candidatos, caso o partido não tenha candidatura própria ou um nome de baixa relevância eleitoral? Seria Gustvao Medanha, ex-prefeito de Aparecida de Goiânia que recentemente retornou ao MDB, o melhor nome?
Há outros grandes nomes na disputa? Há, sim, como Vanderlan Cardoso (PSD) que, apesar de sair derrotado nas eleições municipais de 2016 e 2020, foi eleito senador, em 2018. Cabe compreender como será o desempenho eleitoral de Vanderlan seis anos após sua candidatura vencedora. O que se viu, quando candidato a prefeito de Goiânia, foi uma considerável redução em sua votação, caindo de 217.981, em 2016, para 148.739, em 2020. Estamos falando de 1/3 dos votos que simplesmente ‘abandonaram’ Vanderlan entre ambas eleições.
Goiânia elegeu apenas prefeitos filiados ao MDB ou PT desde as eleições de 2000. Portanto, cabe uma atenção a quem o PT colocará na disputa; ainda mais com Lula na presidência. Adriana Acorsi é a candidata natural, visto sua presença nas eleições de 2016 e 2020, quando quase dobrou sua votação, saltando de 46.103 (2016) para 80.715 (2020). Em 2022, quando foi eleita deputada federal, somou 44.560 entre os goianenses, ficando atrás de apenas 3 candidatos ao cargo na cidade. No entanto, ser uma apoiadora convicta do presidente Lula e defensora de pautas identitárias pode dificultar a vida de Adriana em uma ‘cidade Bolsonarista’. Ainda assim, é impossível pensar nas eleições de 2024 sem considerar Adriana Acorsi como uma candidata relevante.
Por fim, há outro nome que sempre merece a atenção: o ex-governador e ex-senador Marconi Perillo. É verdade que Marconi sofreu derrotas recentes em eleições seguidas para senador, mas seu desempenho entre os eleitores goianenses melhorou. E muito! Em 2022, Marconi contabilizou 98.249 votos em Goiânia, metade dos votos de Wilder Morais, candidato eleito senador; quase o dobro dos 52.852 votos somados em 2018, numa eleição com dois votos para o cargo. Estamos diante de um retorno de Marconi Perillo aos velhos tempos de sucesso eleitoral? Só as urnas dirão.
- Goiânia elegerá um prefeito invisível?
O termo ‘prefeito invisível’ foi brilhantemente cunhado pelo filósofo Alessandro Rizza ao observar a crescente tendência à alienação eleitoral em muitas cidades brasileiras. Em Goiânia não tem sido diferente. No primeiro turno, em 2020, 368.297 dos eleitores goianos (37,92%) não escolheram candidato a prefeito. Os dois primeiros colocados, Maguito Vilela (MDB) e Vanderlan Cardoso (PSD), somados, tiveram menos 365.933 votos. Isso mesmo, o ‘prefeito invisível’ garantiria vaga no segundo turno com certa folga.
O número é 6,6 pontos percentuais acima da soma de abstenções, votos nulos e brancos contabilizados na eleição 2016. Será que a alienação eleitoral, ou desalento eleitoral como cunhado pelo também filósofo José Carlos Sauer, se manterá elevada ou sofrerá uma redução? Os números observados em 2020 foram impactados pela pandemia ou demonstram um afastamento dos goianenses da política e, consequentemente, das eleições? E, principalmente, em caso de redução do desalento eleitoral, quais candidaturas receberão os votos desses eleitores que retornarão ao pleito? E sim, temos mais dúvidas que certezas nessa seara, o que é normal quando falamos de 1/3 dos eleitores.
6 de outubro de 2023 é quase ali. Mas há tempo suficiente para partidos políticos e candidatos compreenderem o cenário político que virão. A maioria dos eleitores ainda não decidiu em quem irão votar; mas problemas que merecem ação da gestão municipal estão aí, no dia a dia dos goianenses. Quem quiser ser eleito prefeito de Goiânia, precisa estar atento a isso. Cabe lembrar que a eleição é sobre eleitores confiando a solução dos problemas públicos aos candidatos, e não apenas sobre os candidatos.
Paulo Petitinga é estrategista político, mestre em Comunicação e Opinião Pública pela Universidade Católica de Brasília, e pesquisador-convidado do Labô – Laboratório de Política, Comportamento e Mídia, da PUC-SP.