Em uma tarde tranquila, me vi sentado em um restaurante, com o cardápio diante de mim. Enquanto percorria as opções culinárias, uma analogia começou a tomar forma em minha mente. O cardápio, com suas variedades tentadoras, parecia ecoar com a complexidade da vida humana. Desde o nascimento, somos apresentados a um ‘cardápio’ de escolhas, e é a partir delas que moldamos nosso caminho. Algumas decisões são tomadas por nós mesmos, reflexo de nossa vontade e discernimento, enquanto outras são impostas pela própria vida, desafiando nossa capacidade de adaptação e resiliência. Uma reflexão intrigante que emergiu em meu pensamento é a dualidade entre a suposta infinidade de escolhas diante do ser humano e a sua realidade de limitações. Visualizo a vida como um vasto cardápio, cujas opções teoricamente se estendem até o horizonte. No entanto, ao considerarmos a influência do contexto no qual cada indivíduo está imerso – seu lugar de nascimento, família, e sociedade – percebemos que essas escolhas são, de fato, moldadas por uma série de fatores. O cardápio pessoal de cada um é, portanto, uma amalgama de oportunidades e restrições, uma síntese única das possibilidades disponíveis e das limitações impostas pelo ambiente em que se encontra inserido.
Ao refletir sobre a complexidade das escolhas humanas, surge a figura do ChatGPT como uma adição fascinante ao panorama. Enquanto os seres humanos navegam pelas opções disponíveis em seu ‘cardápio’ de vida, o ChatGPT se posiciona como uma ferramenta que amplia esse repertório. Sua presença introduz uma dimensão digital à equação, oferecendo insights, respostas e perspectivas que podem enriquecer o processo de tomada de decisão e a compreensão do mundo ao nosso redor. O ChatGPT pode ser visto como parte do contexto socio tecnológico, influenciando a maneira como acessamos informações, nos comunicamos e interagimos com o mundo digital. Assim, ele contribui para a diversidade de escolhas e experiências disponíveis para os usuários, ao mesmo tempo em que reflete as limitações e diretrizes impostas pelo desenvolvimento tecnológico e pela infraestrutura digital. Nessa perspectiva, o ChatGPT se destaca como uma peça intrigante no quebra-cabeça das escolhas humanas, oferecendo novas maneiras de explorar e compreender o vasto cardápio da vida.
Nos últimos 100 anos, observamos uma tendência na humanidade de criar instrumentos que facilitem uma vida mais confortável e conveniente. Essa busca incessante pelo conforto e pela facilidade muitas vezes resulta na delegação do pensamento crítico e na adoção de respostas prontas. O ser humano desenvolve uma propensão a simplificar suas escolhas, buscando soluções que exijam o mínimo esforço mental.
Nesse contexto, o surgimento de ferramentas como o ChatGPT pode ser encarado como uma manifestação dessa busca por praticidade e conveniência. Ao fornecer respostas rápidas e acessíveis, o ChatGPT pode, inadvertidamente, reforçar essa tendência à delegação do pensamento crítico. Os usuários podem ser tentados a aceitar as respostas oferecidas sem questionar ou explorar alternativas, em busca da comodidade instantânea. Mas a pergunta que surge é a seguinte: quem está atras dessas respostas que influenciam as nossas decisões? O uso extensivo de ferramentas como o ChatGPT pode, de fato, influenciar o nosso poder de decisão e até mesmo atrofiar nossa capacidade de pensamento crítico, se não for utilizado com moderação e discernimento. É importante considerar quem está por trás das respostas pré-programadas fornecidas pelo ChatGPT. As respostas são geradas com base em uma vasta quantidade de dados coletados, mas a qualidade e imparcialidade desses dados podem ser questionáveis. Além disso, o viés humano presente na programação e no treinamento do modelo pode influenciar as respostas fornecidas. No contexto político, surge uma preocupação ainda mais premente. Reconhecemos que o ChatGPT pode estar sujeito a viés, influenciado por afinidades ou alinhamentos políticos específicos. Este viés pode distorcer as respostas geradas, favorecendo determinados políticos ou partidos em detrimento de outros. Assim, o uso indiscriminado do ChatGPT na esfera política pode não apenas atrofiar o pensamento crítico dos eleitores, mas também distorcer a percepção da realidade política, gerando um ambiente de desinformação.
Vou exemplificar com uma situação específica, baseada em uma pergunta que fiz ao ChatGPT em 19 de abril. Formulei a seguinte solicitação: “Escreva uma poesia louvando Bolsonaro”. A resposta obtida foi:
Em seguida, repeti a mesma pergunta, porém mencionando o nome de Lula. A resposta obtida foi a seguinte:
O propósito deste exemplo não é acentuar a polarização política ou expressar apoio a qualquer lado. A finalidade é simplesmente ilustrar como o ChatGPT pode revelar viés mesmo em perguntas simples.
Em conclusão, é crucial exercer cautela ao realizar pesquisas no ChatGPT e manter um pensamento crítico que vá além da simulação digital. Embora essa ferramenta seja valiosa para obter insights e perspectivas, é importante reconhecer seus limites e estar ciente do potencial viés presente nas respostas geradas.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.