A JORNADA DO VOTO busca explorar a complexa relação entre o cidadão e o ato de votar. Ao longo desta série, examinarei os diversos aspectos da experiência eleitoral, desde as motivações individuais até os fatores estruturais que moldam o comportamento do eleitor no ato de votar.
No artigo A Apatia do Voto nas Capitais e o Futuro das Eleições no Brasil, destaquei o avanço do Desalento Eleitoral nos grandes centros urbanos, um fenômeno que tem aumentado a influência do voto do interior do país, na escolha de Presidente, Senadores e Deputado Federais. Argumentei ainda que o perfil predominante dos eleitores desalentados no Brasil é composto majoritariamente por jovens de até 35 anos, com ensino fundamental completo ou incompleto, e, em sua maioria, mulheres (Fonte T.S.E).
Este novo ensaio, que inaugura a série A Jornada do Voto, aprofunda-se nas dinâmicas que orientam o comportamento eleitoral, onde, refletiremos sobre os desafios e transformações do processo eleitoral no Brasil, tendo como pano de fundo o Desalento Eleitoral.
A experiência do voto no Brasil teve início apenas 32 anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral. Em 23 de janeiro de 1532, os moradores da primeira vila fundada na colônia portuguesa, São Vicente (atual estado de São Paulo), foram às urnas para eleger o Conselho Municipal (Agência Câmara de Notícias).
Naquele período, o processo eleitoral brasileiro seguia os dispositivos da Constituição Espanhola, uma influência que perdurou até a eleição da Assembleia Geral Constituinte de 1824. Foi nesse momento que, pela primeira vez, uma legislação eleitoral genuinamente brasileira entrou em vigor.
Nosso foco será, sobretudo, uma experiência do ato de votar e sua evolução – ou estagnação – ao longo dos últimos 200 anos. A pesquisa se concentrará em todos os aspectos que envolvem o voto, um desafio significativo, dada a escassez de literatura e de investigações anteriores que orientam a delimitação dos objetivos. Para superar essa lacuna, analisaremos pesquisas realizadas pelo Instituto Methodus e pesquisas divulgadas no Brasil nos últimos 20 anos, complementadas pela análise de pesquisadores políticos e eleitores que serão convidados a participar deste estudo, compartilhando suas vivências e percepções sobre o ato de votar.
Para aprofundar este estudo, exploraremos questões centrais que influenciam a experiência eleitoral, tais como: a neutralidade dentro da seção eleitoral, a relação do eleitor com as mudanças na forma de votação, as emoções mobilizadas no momento do voto e a sensação de estar na cabine eleitoral. Investigaremos também como os eleitores percebem a conclusão do processo eleitoral e como interpretam o ato de votar – seria ele um dever cívico ou uma obrigação imposta? Além disso, examinaremos se a participação na eleição gera sentimentos de satisfação, entusiasmo, felicidade ou frustração? Nosso objetivo será compreender esta intrincada experiência, sem perder a atenção ao Desalento Eleitoral e suas motivações.
Tradicionalmente, a ciência política tem se concentrado no estudo dos sistemas eleitorais, negligenciando os aspectos comportamentais que influenciam a forma como os cidadãos vivenciam o ato de votar e sua propensão a participar do processo eleitoral. No entanto, essa dimensão subjetiva desempenha um papel fundamental na dinâmica política contemporânea, afetando diretamente o engajamento cívico, as preferências eleitorais e a percepção da legitimidade do resultado das eleições.
Ao longo dos últimos quatro anos, venho observando, analisando e comentando uma mudança significativa nesse cenário, seus impactos são profundos tanto na forma como os cidadãos se relacionam com o voto quanto na definição de resultados e prognósticos eleitorais. A maneira como os eleitores percebem o ato de votar tem sido um fator determinante para o sucesso eleitoral da direita nas últimas eleições, influenciando sua mobilização e declarações de apoio. Da mesma forma, essa relação impõe desafios estruturais ao crescimento e ao desempenho da esquerda, limitando a sua capacidade de expandir a sua base eleitoral e competir em determinados segmentos da sociedade.
Neste sentido, a compreensão da jornada do voto é essencial para a formulação de estratégias políticas eficazes e para a preservação da legitimidade democrática. No entanto, esta análise exige investimentos em pesquisa e inovação. Políticos e partidos que desejam compreender e conquistar eleitores de maneira eficaz não podem ignorar a necessidade de iniciativas financeiras como esta. Sem recursos e apoio, permaneceremos reféns de conjecturas imprecisas e de diagnósticos superficiais. Aqueles que pretendem sagrar-se vencedores na eleição de 2026 precisam começar a agir agora, investindo no conhecimento que definirá o rumo das próximas eleições.
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, Pesquisador em Comportamento Político no – Labô , Consultor e Diretor do Instituto Methodus. Nos últimos vinte e cinco anos, orientou políticos, governos e instituições nos Estados do Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Amazonas, Tocantins, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e Goiás.