Em 2024, não estamos apenas diante de um simples ano eleitoral; possivelmente, estamos testemunhando o ano que definirá as eleições. Globalmente, um número sem precedentes de eleitores na história se dirigirá às urnas, já que pelo menos 64 países (além da União Europeia) – o que representa uma população combinada de cerca de 49% da população mundial – estão programados para realizar eleições nacionais. Os resultados dessas eleições, para muitos, se revelarão significativos para os anos futuros.
Do ponto de vista comportamental, esse fenômeno reflete a participação cívica em uma escala global, evidenciando a importância que os indivíduos atribuem ao processo democrático e à tomada de decisões que moldarão os destinos de suas nações. A dinâmica comportamental dos eleitores, suas motivações e atitudes, desempenharão um papel crucial na formação dos desdobramentos políticos que seguirão essas eleições em diversos cantos do mundo.
Ao explorar a interseção entre a política e o comportamento, vale ressaltar que, neste contexto, optaremos por analisar alguns exemplos específicos que oferecem insights valiosos sobre dinâmicas políticas e comportamentais em todo o mundo. Iniciaremos nossa análise examinando casos destacados, cada um representando um microcosmo das complexidades que permeiam as eleições e os desafios democráticos em 2024. Esses exemplos fornecerão uma visão aprofundada das diferentes situações políticas e das nuances comportamentais que moldarão o cenário global neste crucial ano eleitoral.
A incerteza em torno da realização de eleições na Ucrânia durante o estado de lei marcial adiciona uma camada de complexidade ao cenário político. A decisão do presidente Zelensky de buscar reeleição, apesar das circunstâncias desafiadoras, ressalta a interseção entre o comportamento político e as condições excepcionais de segurança nacional.
No cenário britânico, as pesquisas de opinião moldam as expectativas em torno da mudança de liderança, refletindo não apenas as preferências partidárias, mas também as percepções do eleitorado sobre questões econômicas cruciais. O comportamento político, expresso nas urnas, será um indicador revelador do apetite por mudanças em uma era de desafios significativos.
Finalmente, nos Estados Unidos, a possível reeleição de Donald Trump emerge como um ponto focal de atenção global. O comportamento dos eleitores americanos, suas motivações e perspectivas, desempenharão um papel crítico na determinação do curso político do país e, potencialmente, nas dinâmicas geopolíticas globais. O fenômeno destaca como as escolhas individuais em uma democracia influenciam não apenas a nação em questão, mas reverberam em escala internacional.
No cenário político brasileiro pós-posse de Luiz Inácio Lula da Silva, a polarização persistente e a atmosfera de constante campanha eleitoral moldam as interações entre os principais atores políticos. À medida que se aproximam as eleições municipais de outubro, o país se torna um terreno fértil para a análise comportamental, destacando as estratégias adotadas pelos líderes e as respostas do eleitorado diante de uma paisagem política dinâmica. As trocas de ataques acalorados entre Lula e Jair Bolsonaro revelam não apenas divergências ideológicas, mas também estratégias de comunicação e mobilização de suas bases.
Essa retórica intensa, evidenciada em eventos como o ocorrido em São Paulo onde Bolsonaro acusou Lula de ser “analfabeto e um asno”, enquanto o presidente definiu o líder do Partido Liberal (PL) como um “fascista” não apenas define o tom do debate político, mas também influencia a percepção pública e as alianças políticas. O histórico recente, incluindo o impeachment de Dilma Rousseff e o escândalo da Lava Jato, adiciona uma camada de complexidade ao panorama político.
A performance eleitoral do Partido dos Trabalhadores de Lula nas eleições municipais de 2020 fornece uma base para avaliar a resiliência do partido após desafios significativos, sendo crucial para entender as dinâmicas atuais. O Partido Liberal, com sua estratégia de expansão, busca não apenas fortalecer sua presença política, mas também enfrenta o desafio de encontrar um líder competente para as eleições presidenciais de 2026, diante das restrições impostas a Bolsonaro.
A campanha municipal serve como um campo de testes para suas estratégias de crescimento e mobilização. A decisão de Lula em apoiar Guilherme Boulos em São Paulo, rompendo com a tradição do Partido dos Trabalhadores de lançar um candidato próprio, revela movimentações táticas e alianças inéditas, refletindo uma adaptação à dinâmica política em constante evolução. No Rio de Janeiro, a preferência por Eduardo Paes, mesmo enfrentando uma escalada de violência, destaca a ponderação entre estabilidade política e segurança pública, elementos-chave nas escolhas eleitorais.
Esses exemplos ilustram a complexidade do cenário político brasileiro em 2024, com a análise comportamental se revelando essencial para desvendar as motivações por trás das decisões políticas, os padrões de apoio do eleitorado e as estratégias adotadas pelos partidos e candidatos. No meu ponto de vista, ao adentrar mais profundamente na análise, atrevo-me a afirmar que as eleições municipais no Brasil são uma espécie de “trailer”, uma antecipação do que podemos esperar nas presidenciais de 2026.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.