A dinâmica ideológica nas eleições para o Senado na região Centro-Oeste brasileira sofreu transformações significativas entre os anos de 2018 e 2022, refletindo uma crescente polarização política. A análise dos dados eleitorais demonstra claramente que houve um expressivo crescimento da extrema direita, liderado principalmente pelo Partido Liberal (PL), que sozinho recebeu mais de 2 milhões de votos em 2022, sinalizando uma radicalização do eleitorado que antes se posicionava mais ao centro ou na direita tradicional. No Distrito Federal, por exemplo, partidos ligados à extrema direita tiveram um desempenho muito superior ao de eleições anteriores.
Essa ascensão da extrema direita é acompanhada por um significativo recuo das forças políticas moderadas. Os partidos de centro-esquerda e centro-direita enfrentaram perdas substanciais, com reduções que ultrapassam 50% dos votos obtidos em comparação a 2018. Em Goiás, partidos de centro-direita, viram suas votações diminuírem consideravelmente, enquanto partidos da extrema direita cresceram significativamente. Isso indica que o eleitorado do Centro-Oeste passou a buscar posições políticas mais definidas e menos conciliatórias, gerando um esvaziamento do espaço político antes ocupado por partidos que promoviam diálogo e equilíbrio ideológico.
Chama atenção também a redução da direita tradicional. Mesmo mantendo uma relevância eleitoral considerável, partidos que tradicionalmente representam o campo conservador viram seus votos reduzidos em cerca de 46%. Parte significativa desse eleitorado conservador tradicional migrou para partidos mais à direita, destacando mudanças profundas no perfil e nas demandas políticas desses eleitores.
Por outro lado, a esquerda mostrou uma resistência relativa nesse contexto polarizado, enfrentando quedas menores do que as observadas no centro político. Ainda que tenha havido perda eleitoral (-36%), essa queda foi menos acentuada quando comparada às drásticas reduções no espectro centrista. Em Mato Grosso, por exemplo, partidos de esquerda, como o PT, mantiveram um núcleo estável de votos, possivelmente sustentado por eleitores com posicionamentos ideológicos mais firmes e menos suscetíveis às oscilações conjunturais.
Essas mudanças refletem desafios significativos para futuros processos eleitorais e estratégicos na região. A radicalização política, o esvaziamento do centro ideológico e a manutenção relativa da esquerda sugerem um ambiente eleitoral cada vez mais complexo e polarizado. Para os partidos e candidatos, entender essas novas dinâmicas será essencial para posicionamentos estratégicos eficazes, demandando maior clareza ideológica e maior atenção às mudanças no perfil do eleitorado centro-oeste.
José Carlos Sauer é formado em Filosofia pela PUC-RS, pesquisador em comportamento político, consultor estratégico, analista de dados e diretor do Instituto Methodus. Com mais de 25 anos de experiência no cenário eleitoral brasileiro, destaca-se na análise de tendências e no uso inteligente de dados para estratégias competitivas eficazes.
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