Durante uma cerimônia de formatura em uma faculdade de Porto Alegre no ano passado, um diálogo me deixou bastante pensativo. Enquanto conversava com um futuro formando, questionei se ele havia votado nas eleições presidenciais e se havia se informado sobre os candidatos antes de votar. Sua resposta resumiu-se mais ou menos a isso: “Eu costumo otimizar meu tempo, investindo em informações que tragam resultados ou que sejam verdadeiramente valiosas. No caso das eleições, voto por obrigação, mas acredito que dedicar tempo para me informar sobre os candidatos é dispensável. Meu ‘voto informado’ poderia ser anulado por alguém que decidisse no próprio dia das eleições em quem votar. Assim, do meu ponto de vista, não vale a pena dedicar muito tempo à política.”
O debate sobre a relevância do voto informado é fundamental em sociedades democráticas. A ideia de que um voto individual pode ser anulado por outro que foi decidido sem reflexão prévia levanta questões profundas sobre o papel do conhecimento na formação de uma opinião política.
Por essa razão, o Instituto Methodus conduziu uma pesquisa em Porto Alegre, indagando os cidadãos sobre o grau de concordância com a seguinte afirmação: “Só presto atenção na política na semana das eleições.” Os resultados dessa pesquisa foram os seguintes:
Estes resultados refletem a diversidade de atitudes em relação ao engajamento político, destacando que uma parcela significativa (52%) discorda totalmente ou em parte da ideia de concentrar a atenção política somente no período eleitoral. Isto sugere uma conscientização sobre a importância de um acompanhamento mais contínuo e não apenas pontual da política.
Por outro lado, os resultados da pesquisa evidenciam que uma parcela significativa da população, composta por 38% dos entrevistados, concorda, em parte ou totalmente, com a ideia de que é aceitável concentrar o interesse pela política apenas na semana das eleições. Esta visão, compartilhada por mais de um terço dos participantes da pesquisa, destaca uma perspectiva que legitima o foco político no período eleitoral imediato. Esta porcentagem considerável de concordância parcial ou total evidencia uma posição relevante na qual uma parte significativa da população acredita que a atenção à política no período eleitoral é suficiente ou justificável. Isso sugere uma percepção de que o envolvimento político durante esse intervalo específico é o bastante para tomar uma decisão informada nas eleições.
Em meio ao ritmo acelerado da sociedade contemporânea, surge uma questão premente: seria possível adquirir informações suficientes apenas uma semana antes das eleições para votar de maneira verdadeiramente informada? Essa pergunta sugere uma reflexão crucial sobre a natureza do voto informado e o tempo necessário para adquirir conhecimento político.
Vamos analisar:
O termo “voto informado” implica em tomar uma decisão de voto baseada em um entendimento amplo e consciente sobre os candidatos, suas propostas, histórico político e suas possíveis consequências. Se a questão sobre se informar uma semana antes das eleições é suficiente para alcançar esse nível de entendimento, a resposta pode variar.
Uma semana pode não ser tempo o bastante para absorver informações substanciais sobre todos os candidatos e suas plataformas políticas. Isso pode resultar em uma compreensão superficial ou limitada das opções disponíveis, o que pode comprometer a capacidade de tomar uma decisão verdadeiramente informada.
É importante ressaltar que a qualidade do voto informado é influenciada pelo tempo dedicado à pesquisa e à análise das informações disponíveis. Um período mais longo permite uma análise mais aprofundada, considerando diversos pontos de vista e fontes de informação.
No entanto, para alguns eleitores, essa semana pode representar tempo suficiente, especialmente se já possuírem conhecimento prévio ou acesso a fontes confiáveis e resumidas sobre os candidatos e suas propostas.
Em última análise, a definição de um “voto informado” pode variar de pessoa para pessoa. Para alguns, uma semana pode ser suficiente, enquanto para outros, um período mais longo de análise e reflexão pode ser considerado essencial para se sentir verdadeiramente informado ao emitir seu voto.
O essencial é reconhecer que a informação é fundamental para a tomada de decisão consciente e, portanto, um maior tempo de dedicação tende a favorecer uma escolha mais embasada e ponderada.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.