Rosmarie Köppel-Küng, no final dos anos 1950, posicionou-se contra o sufrágio feminino ao unir-se à Liga das Mulheres Suíças no movimento contra o direito de voto feminino (Bund der Schweizerinnen gegen das Frauenstimmrecht). Daí emergiu um paradoxo: as opositoras do sufrágio feminino viram-se compelidas a um engajamento político… para evitar o mesmo. Contudo, enfrentavam limitações significativas. Enquanto as defensoras do sufrágio conseguiam capturar a atenção midiática com um ativismo criativo e impactante, as opositoras se restringiam a estratégias de publicidade, mesas redondas e debates. Seguiam o espírito da época e se envolviam em discursos simplistas, embora depois retrocedessem por não se enquadrarem no estereótipo do comportamento feminino.
O argumento central das opositoras residia na ideia da divisão natural de papéis. Gertrud Haldimann-Weiss, antissufragista, estudou farmácia na Universidade de Berna e se formou em 1930. Ela escreveu: “Nosso verdadeiro propósito é servir, contribuir, expressar gratidão, não impor, exigir ou calcular de maneira fria”. Enquanto o marido assumia a responsabilidade pelas decisões políticas e assuntos do Estado, a esposa cuidava do lar, sempre sob a supervisão natural da “autoridade paternal” do marido. Numa carta dirigida a um grupo de mulheres em Zurique, opondo-se ao direito de voto, é mencionado: “A rejeição da igualdade política entre mulheres fundamenta-se na convicção de que o que elas realizam como esposas, mães, irmãs, filhas ou profissionais tem uma importância tão significativa quanto a administração dos assuntos estatais”.
Os homens que advogavam pela igualdade frequentemente eram retratados como fracos. “Às vezes, sinto-me à beira da explosão”, escrevia Gertrud Haldimann-Weiss. “No entanto, é com frustração que observo os homens tolerarem essas situações”. Apesar do foco na vida doméstica, muitos opositores e opositoras ao voto feminino desfrutavam de assistência doméstica e vinham de meios abastados e burgueses. Isso indicava um interesse claro na manutenção do status quo. Durante a Guerra Fria, o anseio por igualdade de gênero foi associado ao “igualitarismo” do comunismo. Mesmo reconhecendo as diferenças na condição das mulheres por trás da Cortina de Ferro, a negação dos direitos femininos era justificada em nome da luta contra o comunismo.
Na Suíça, pairava o temor de que o sufrágio feminino abalasse a nação e a tornasse suscetível à influência da esquerda. Um cenário possível previa o sufrágio feminino como uma ameaça às forças armadas, potencialmente enfraquecendo o país. Esse contexto revela uma desconfiança fundamental em relação às mulheres, considerando-as capazes de agir de forma manipuladora e irracional.
O rótulo de antifeminista ainda ecoa nos dias atuais, principalmente no âmbito das dinâmicas cotidianas de gênero: quem assume o cuidado das crianças? Quem opta pelo trabalho em meio período? Contudo, a noção de que as mulheres devam ser privadas do direito ao voto é hoje inimaginável. Surpreendentemente, até Rosmarie Köppel-Küng afirmou em uma entrevista, décadas após liderar uma campanha contra o sufrágio feminino: “Atualmente, eu seria a favor [do sufrágio feminino]”.
É notável como as atitudes em relação à participação das mulheres na política estão mudando, especialmente considerando os dados da pesquisa do Instituto Methodus. A constatação de que a maioria, tanto homens quanto mulheres, discordou fortemente da afirmação “Não voto em mulheres porque os homens são melhores políticos” revela uma mudança significativa de mentalidade.
Essa rejeição quase unânime indica um avanço notável na percepção da igualdade de gênero no cenário político. A pesquisa do Instituto Methodus ressalta a recusa em associar a eficácia de um político ao gênero, enfatizando que a competência está ligada às habilidades individuais, visão e compromisso com o bem-estar da sociedade.
Essa postura coletiva reflete um progresso na valorização do potencial das mulheres como líderes políticas competentes, desafiando estereótipos antiquados e abrindo caminho para uma representatividade mais diversa na esfera política. A pesquisa do Instituto Methodus destaca essa mudança de paradigma e evidencia a crescente aceitação da ideia de igualdade de gênero no contexto político atual.
É fascinante notar como a perspectiva sobre o voto em candidatas mulheres diverge entre homens e mulheres, conforme revelado pelos dados da pesquisa. Quando confrontados com a afirmação “Eu só voto em Candidatas Mulheres”, os resultados apontam para uma divergência notável entre homens e mulheres. Ambos os grupos mostram uma tendência majoritária de discordância, negando essa ideia.
Entretanto, é significativo notar que uma parcela maior de mulheres do que de homens expressa concordância com a afirmação. Isso sugere que, enquanto a maioria de ambos os sexos não concorda com a ideia de votar exclusivamente em candidatas mulheres, uma parte significativa das mulheres está mais inclinada a considerar essa possibilidade do que os homens.
Essa discrepância aponta para uma possível diferença na percepção da importância da representação feminina na política entre homens e mulheres. Pode indicar um maior apoio ou valorização das mulheres em termos de representatividade na esfera política por parte das próprias mulheres, enquanto os homens podem ser menos propensos a adotar uma postura estritamente orientada para candidaturas femininas.
Estes dados revelam um terreno fértil para uma análise mais profunda das dinâmicas de gênero e preferências políticas, além de apontar para uma possível disparidade na abordagem da representatividade de gênero na esfera política entre os sexos.
Alessandro Rizza é Italiano, mora no Brasil. Graduado em Filosofia pela Universitá degli Studi di Catania, na Itália. Mestre em Filosofia pela University College of Dublin, na Irlanda. Atualmente, é pesquisador em comportamento político e analista de pesquisas do Instituto Methodus.